Alceu Penna
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É inevitável, para mim, voltar no tempo quando penso em Alceu Penna. Me lembro imediatamente de minha ansiedade, ainda adolescente, esperando O Cruzeiro aparecer nas bancas e eu, correndo as páginas da revista, para encontrar as “Garotas” da semana. Não só para mim mas para minha geração de meninas que iam ao cinema Rian à tarde e depois iam em grupo tomar sunday de Morango com waffles nas Americanas, Alceu Penna era um modelo de comportamento. Sentíamos suas páginas como modernas, atuais, descoladas. Eram frases, gestos, formas de olhar e seduzir, as
Roupas, chapéus, maiôs, fantasias. Ah! As fantasias de carnaval, fielmente copiadas pelas costureiras do bairro…
Dei meu exemplo, porque acho que Alceu Penna marcou, durante os anos 50/60, no Rio de Janeiro e demais capitais do país onde chegava seu traço e seu talento, um estilo de vida contemporâneo, prazeroso, anti-europeu, brasileiríssimo.
Uma influência que exercia não apenas no comportamento e no ethos das camadas jovens femininas, mas que também marcou o conjunto de sua extensa e polivalente atividade criativa. Como estilista, pode-se dizer, sem medo de errar, que Alceu foi o pioneiro na criação de moda no país. Abandonando os traços importados na Casa Canadá, central da moda naquele tempo,
Alceu parte, em vôo livre, para descobrir o que seria o estilo brasileiro de viver e se vestir. E surge aquela sequência fascinante de modelos de noite e de passeio, que interpretam como ninguém as fantasias de sedução e a sonsa elegância da mulher brasileira. E surgem ainda as fantasias de carnaval, puro desejo que transformação em personagens misteriosas, picantes, viajantes, realizando, au grand complet, a função carnavalesca de liberação dos papéis cotidianos durante os quatro dias de folia. E surgem as variáveis radicalizadas desses caminhos: os luxuosos figurinos de do nosso melhor teatro de revista e as estonteantes pinups de seu desenho publicitário.
Suspeito, com certa convicção, que nenhum artista brasileiro estudou e atualizou tanto e tão profundamente as possíveis respostas à enigmática pergunta de mestre Freud: “o que querem as mulheres?”