Carmen Miranda e Alceu Penna  Um pouco de história da moda brasileira

 
A exposição “Carmen Miranda para Sempre” trouxe ao Memorial da América Latina em São Paulo a história da brasileira mais famosa do século XX, em fotos, discos, objetos e claro, roupas. Sem seus figurinos Carmen não alcançaria tanta notoriedade e por isso uma ala da exposição é dedicada a sua moda tão característica. A mostra estreou no Rio de Janeiro concomitantemente ao lançamento do livro de Ruy Castro.

Carmen Miranda é uma peça-chave na construção da imagem de moda que o Brasil tem no exterior. Em função de sua fama extrema ela criou uma personagem colorida e alegre, que se transformou no sinônimo de brasilidade. Hoje alguns criadores nacionais têm espaço lá fora, contudo, o caráter folclórico gerado pela estrela não foi totalmente substituído. Sua figura é fascinante e está intrínseca no imaginário mundial, por isso não é raro algum estilista revisita-la.

Dentro do espaço dedicado à moda na exposição estavam looks da Salinas, Sta. Ephigênia, Carlos Tufesson e Napoleão Lacerda. Marcas atuais que se inspiraram na artista para criar suas coleções.

A relação da diva com a costura começou cedo. Aos 16 anos aprendeu o oficio quando trabalhou na loja La Femme Chic. Com Madame Boss aprendeu a fazer chapéus, roupas e a cuidar melhor de sua aparência. Logo se tornou uma exímia costureira e, segundo sua recente biografia, ela mesma confeccionava seus figurinos. Em 1933, ela lançou a moda dos casaquinhos masculinos. No ano seguinte, um sapateiro do Catete fez, a seu pedido, os primeiros sapatos plataforma da história. Ela tinha o seios fartos e usava sutiãs que os achatavam.

O traje que a imortalizou foi o de baiana usado em “Banana da Terra” de 1938 – que não deixava ver um umbigo. Dorival Caymi além de compor a música “O Que a Baiana Tem”, assessorou Carmem a compor a fantasia repleta de balangandãs, todos muito bem descritos na letra e tudo isso por cinco dólares – pagos à vista.

Até Carmen Miranda, a fantasia de baiana não era bem vista nos bailes de carnaval porque poderia ser feita de chita e como o Brasil copiava a França, era vista como coisa de ralé.

As roupas que a cantora usava eram pesadíssimas. A saia que usou no filme “Copacabana” foi o Record: pesava 12 quilos. Uma curiosidade: Carmen foi uma das primeiras mulheres a fazer uma cirurgia plástica estética no Brasil. Ela operou o nariz, mas não gostou do resultado.

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Alceu Penna?
Ano passado li o livro “Alceu Penna e as Garotas do Brasil”, publicado em 2004 pelo jornalista Gonçalo Júnior. O título é a biografia do célebre ilustrador da revista “O Cruzeiro”. Uma dúvida surgiu quando entrei em contato com a recente obra de Ruy Castro e vi a exposição sobre a biografada. O desenhista pouco aparece na primeira e não recebe citação na segunda. Contudo, no texto de Gonçalo, Carmen merece um capítulo especial.

Segundo relata o autor, a estrela e o ilustrador ficaram amicíssimos durante uma temporada de ambos nos Estados Unidos. Alceu serviu de intérprete para Carmen e sua banda, o Bando da Lua, além de contribuir com idéias para renovar sua imagem:

“O desenhista faz também uma série de sugestões para ‘renovar’ o guarda roupa da cantora. Adiciona ‘inclusive saias multicolores, os turbantes fantásticos e os sapatões de solas grossas. Desenhei também as suas fantasias quando ela foi para holywood com o Bando da Lua’. Cabe a ele também estabelecer para com os músicos uma mistura no mínimo exótica de fantasia: calça de smoking com sapatos e camisas listradas – então típica dos cubanos. Na cabeça, usariam chapéu panamá. Carmen deve a Alceu também o movimento que se torna uma de suas marcas registradas: o gesto de fazer ondas pela ponta da saia com o braço”. (pág. 68)

Contudo, a amizade de Carmen e Alceu foi breve, mortalmente abalada por uma reportagem publicada por David Nasser, um desafeto da artista. O jornalista divulgou uma biografia, revelando inclusive que a cantora nascera em Portugal Tudo isso de birra por ela ter gravado apenas uma canção de sua autoria e dado preferência para outros compositores, conforme relata Gonçalo Júnior. A estrela cedeu algumas fotos pessoas para Alceu, e essas fotos foram parar nas mãos de Nasser que as publicou maldosamente na revista “O Cruzeiro”. O livro conta que essa briga afetou profundamente o ilustrador – “Até o fim da vida, Alceu dirá aos seus amigos que esse é seu grande pesar”.

Penna assinou durante 26 anos (1938 e 1964) uma coluna que impulsionou as vendas de “O Cruzeiro”. “As garotas do Alceu” como ficou conhecida, eram desenhos de mocinhas bonitas, de corpos bem delineados, valorizados por um traço firme, aliado a cores alegres. A inspiração vinha das pin-ups americanas e seriam como modelo de beleza para as leitoras do semanário.

Foi pelo sucesso de suas meninas que o ilustrador assumiu a editoria de moda da revista nos anos da segunda guerra, em que a informação vinda da Europa, principalmente de Paris, demorava a chegar. A medida foi emergencial, porém, mostrou-se eficaz. O ilustrador passou uma temporada na Cidade Luz, e com a experiência adquirida desenvolveu figurinos para teatro e concurso de Miss. Também criou para Rhodia, que chamava nomes importantes das artes para estampar seus tecidos. Assim, Alceu Penna está entre os grandes criadores de moda brasileiros. E mesmo a dúvida se desenhou ou não para Carmen não tira a importância de sua obra para história da moda brasileira.

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“O Cruzeiro”
A revista o Cruzeiro foi fundada em 1928. Era um dos produtos da empresa Diários Associados do magnata da comunicação Assis Chateaubriand. Foi um grande sucesso editorial. Sua maior tiragem foi de 720 mil exemplares, na edição que cobriu a morte de Getúlio Vargas. A revista acabou em 1975 em função do avanço da televisão e de revistas semelhantes, como a “Manchete”.

O Cruzeiro já está disponível na Internet.
http://www.memoriaviva.digi.com.br/ocruzeiro/ 

É incrível ver a moda e os costumes da época. Clique e verá “As garotas do Alceu” e Carmen Miranda encaixados no seu tempo.

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Legenda das fotos – de cima para baixo:
1 – Capa do livro “Carmen” de Ruy Castro – Submarino
2 – Desfile Salinas/ Verão 2006 – Terra Moda
3 – Cartaz do filme “Banana da Terra” – Museu Virtual Carmen Miranda
4 – As arotas do Alceu – Moda Brasil (nesse link tem fotos e outras ilustrações do estilista)
5 – Estampas de José Carlos Marques e Thomoshigue Kusuno, estilista Alceu Penna, Coleção da Rhodia dos anos 1960 – CosacNaify

O Estilista Alceu Penna: O Descobridor da Mulher Moderna Brasileira

 

(DÉCADAS DE 40 E 50)

 

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Figurino inspirado na ópera Carmem de Bizet (Alceu Penna)

Alceu Penna nasceu no dia 10 de janeiro de 1915, em Curvelo (Minas Gerais), mas logo se mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu até a sua morte em 1980.

Ele foi o primeiro grande estilista de moda brasileira e desenhava as suas garotas com penteados, roupas e atitudes que eram imitadas por quase todas as mulheres na década de 50. As suas roupas tinham saia rodada, babados, cintura marcada que era o estilo típico dos anos 50 e que também lembravam as vestimentas usadas pelas atrizes americanas nos filmes de Hollywood e também por Carmem Miranda.

 

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Revista O Cruzeiro – Capa Carmem Miranda

Penna se inspirou nos filmes de Barbarella e de Theda Bara para compor alguns de seus desenhos de moda.

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Filme Barbarella – 1968 (Jane Fonda)

Além do estilo anos 50 em seus figurinos ele também usava muitos decotes, recortes, peles nuas, abertas ao sol, no eterno jogo de mostrar e esconder.

Os seus desfiles para a multinacional francesa Rhodia no Brasil tinham muito de brasilidade, com muitas cores. O estilista era conectado com a contra cultura e outros movimentos de vanguarda, como a Pop Art.

 

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Vestido de Alceu Penna para a coleção da empresa

Rhodia no Brasil (1959)

Penna desenvolvia seus desenhos influenciados pela arte de seu País e escrevia em sua coluna: “As Garotas do Alceu”, para a revista semanal O Cruzeiro.

A revista circulou durante 37 anos ininterruptamente e transformou-o num dos nomes mais conhecidos da imprensa brasileira. O último número publicado foi em maio de 1975 e depois com o novo dono, encerrou no ano de 1980, quando parou de circular definitivamente.

Na época, as mulheres copiavam os seus modelos, porque ele tinha a capacidade de informar ao leitor em poucas palavras e pelo seu desenho, qual o tipo de tecido usado pelas “Garotas do Alceu”.

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As Garotas de Alceu, na revista O Cruzeiro

As costureiras do Brasil compravam a revista, copiavam e depois costuravam os modelos das suas roupas para as suas clientes.

Penna faleceu quando a obra “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, foi publicada pelo cartunista, que o admirava muito.

A importância dos trabalhos de Alceu Penna se justifica porque o estilista é o um ícone dos anos 40 e 50 no Brasil que influenciou duas gerações de brasileiras, com seu estilo moderno de escrever sobre moda, comportamento e cultura.

Este cartunista, estilista e ilustrador tem sua importância na memória nacional por desenhar e inventar a mulher brasileira de sua época.

 

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Alceu Penna

Segundo Ziraldo, ele conseguiu interferir na vida e nos hábitos das pessoas deste País, antes do advento da televisão no Brasil.

Penna também escrevia artigos para a revista A Cigarra, dirigidos para o seu público-alvo, a mulher brasileira, jovial, moderna e independente.

O estilista mineiro desenhou muitos figurinos para espetáculos teatrais, bailes de carnaval, concursos de beleza, vestidos de noivas e moda praia.

http://faroartesepsicologia.blogspot.com/2012/01/o-estilista-alceu-penna-o-descobridor.html

1969 – STRAVAGANZA

 

Gal Costa a partir deste mês, teve contrato assinado com a América Fabril. Vai exibir-se na Fenit e num show por todo o Brasil. Atualmente, Gal é o sucesso, no Rio. Brevemente  se os prognósticos de seu empresário Guilherme Araújo se concretizarem – , irá tentar o mesmo na Europa e Estados Unidos. Guilherme está preparando terreno por lá. 

(1969, Revista A Cigarra, Marisa Alvarez Lima)

8 a 24 de agosto  

O maior show feito pela RHODIA foi um desfile comemorando 50 anos da empresa e apresentou na XII FENIT (Feira Nacional da Industria Têxtil) o show-desfile “Stravaganza” com Raul Cortez e Gal Costa, num cenário de circo idealizado por Cyro Del Nero. As apresentações antigamente eram realizadas no parque do Ibirapuera ate mudar para o Anhembi com 180 stands.

 “Estava em início de carreira. Ainda buscava a consolidação de meu nome junto ao público”, recorda-se Gal, em 2001.

Cortez era o mestre-de-cerimônias do evento, que tinha como pano de fundo o picadeiro de um circo. Ele era o responsável pela apresentação de todas as atrações, entre elas o show de Gal e desfiles de moda. Se nesse ano, Gal era quase uma estreante, hoje, o público a reconhece só pelo primeiro nome. 

 

 

 

Gal Costa conversa com Raul Cortez nos bastidores do show Stravaganza, em 1969. 

1969
Revista CLAUDIA
Ano IX
n° 95
Agosto

 

Gal Costa estrela do show-desfile Stravaganza, promovido pela Rhodia e Revista Claudia.

O espetáculo teve inspiração circense e levou para o palco leão, elefante e trapezistas. Gal Costa foi a estrela (não faltava música nas apresentações).

“Para mim, isto é um espetáculo-de-novidade. Eu nunca tinha participado de um showcomo esse” (Gal Costa em declaração dada à revista Claudia, nro. 95, 1969).


Sobre este mesmo desfile-show, há uma descrição na revista Claudia que nos revela o quanto estes desfiles eram diferentes, grandiosos, enfim, outro tipo de manifestação, que falava de arte, moda, poesia, música etc.: 

“Circo, circo por todos os lados…

O stand, projeto de Cyro del Nero, comporta 600 pessoas. Tem três picadeiros com palcos giratórios. Iluminação piroscópica, dragões que largam fumaça pela boca, paredes com espelhos mágicos alternados com painéis de Bernard Buffet e Picasso.

Tudo muito colorido. Tudo muito circense.

Alceu Penna bolou os figurinos femininos e Hélio Martinez os masculinos, para o grande desfile da Rhodia. Os manequins desfilarão individualmente enquanto Raul Cortez diz poemas de Drummond. Em seguida a Grande Parada, com todo o elenco. Aí começa o circo de verdade. Entre um quadro e outro, misturando-se a eles, as moças continuarão desfilando. E os motivos dos figurinos sempre inspirados em cada quadro apresentado”.

 

 
Gal aprende alegria com Piolin, Chicharrão, Cigarrito, Melinho, Bambolé, Xuxu, Potó e Tony
 
Gal de Palhaço – Foto: Joannis Hatiras

Esse palhaço abaixava a cabeça, a luz apagava puxava a peruca e era Gal Moda, a Gal Costa. 

http://caetanoendetalle.blogspot.com

Alceu de Paula Penna, um pouco de sua história e das Garotas imortais na sua última entrevista a ”O Cruzeiro”

Por A. Accioly Netto 

Jornalista, Diretor da Revista “O Cruzeiro”, RJ

(Matéria publicada na revista O Cruzeiro- Edição 12/ paginas 100 -105/ 15 de fevereiro de 1980)

Editora: Jeanette Hansen / Desenhos e Foto: Arquivo/OC

As “Garotas” de Alceu acabam de completar quarenta anos de existência. Essa informação para as jeunnes filles en fleur, ou seja, a “geração pão e cocada” dos atuais cronistas mundanos pouco ou nada significa. Mas para suas mães que foram moças na década de 50, a constatação é melancólica, pois aquelas figurinhas bonitas, elegantes e ingênuas, mas sutilmente maliciosas, além da diversão semanal favorita dos leitores da revista O CRUZEIRO, eram modelos de figurinos, penteados e inspiração para trabalhos de artesanato. O mesmo havia acontecido com suas avós em eras anteriores com as “Melindrosas” de J. Carlos. Depois da aposentadoria voluntária de suas “Garotas”, Alceu de Paula Penna recolheu-se a uma vacância otimista, onde passava o tempo ouvindo música, lendo bons autores modernos, e recordando de quando em vez as suas “filhas”.

O repórter, seu amigo de todas as horas, foi entrevistá-lo para comemorar a data, e o fez em ambiente tranqüilo e descontraído. O artigo não chegou a sair com Alceu em vida, porque em 13 de janeiro, pouco depois de completar 65 anos, falecia serenamente, após a comemoração de seu aniversário, realizado no dia primeiro desta década de 80. São suas últimas palavras, de grande artista e incomparável figura humana, que reproduzimos e se ele não mais as lerá, vão servir para recordar sua passagem entre nós, toda ela dedicada às belas artes.

É uma homenagem de o CRUZEIRO ao seu grande colaborador.

A SAGA DAS GAROTAS 

Alceu de Paula Penna, filho de fazendeiros, pai Christiano Penna e mãe Mercedes de Paula Penna, natural de Curvelo, pacata cidadezinha situada no centro geográfico de Minas Gerais (onde nasceram ambém o romancista Lúcio Cardoso, o político Adauto Lúcio Cardoso e a figurinista Zuzu Angel), contando dez irmãos e irmãs. Nos idos de 1932 veio para o Rio de Janeiro estudar arquitetura –“Matriculei-me na Escola Nacional de Belas Artes e segui os cursos até a quinta série mas, na verdade, gostava mesmo era de desenhar. Durante cinco anos fiz histórias em quadrinhos na Rio Gráfica Editora, com textos de Nelson Rodrigues ilustrava contos e novelas e produzia capas para a Empresa Gráfica O Cruzeiro, colaborando também para os suplementos feminino e a infantil de O Jornal com Elza Marzulo.”

 

Um certo dia 5 de abril de 1938 os jornais cariocas publicaram o seguinte anúncio: “As Garotas que têm yumpf. As Garotas que são a expressão da vida moderna. As Garotas endiabradas e irrequietas serão apresentadas todas as semanas em O CRUZEIRO, por Alceu, o mais malicioso e jovem de nossos artistas. As Garotas em duas páginas a cores constituem um dos its de O CRUZEIRO, a revista que acompanha o ritmo da vida moderna”.

Na data seguinte, inseridas numa publicação de enorme prestígio cuja tiragem, na época, era maior que todas as outras revistas somadas, surgiam as “Garotas de Alceu”. Desenhadas com graça e elegância, com legendas de muito bom humor, abordavam os mais variados temas mundanos, cinematográficos,  esportivos, políticos, teatrais foram desde logo adotadas como uma espécie de biblia, pelos muitos milhares de leitores e leitoras, durante nada menos de vinte e oito* anos de publicação ininterrupta.

As moças eram suas fãs incondicionais utilizando os desenhos para um sem número de utilidades, principalmente como modelos de vestidos e penteados. Muitas encadernavam as páginas, outras copiavam os desenhos para trabalhos manuais nos colégios e artesanato de couro, madeira, cobre, porcelana e bordados de blusas, vestidos, etc. Suas frases e pensamentos eram repetidos, criando-se modismos populares. Há quem diga que serviram de exemplos para duas gerações de adolescentes. As “Garotas” tiveram quatro legendistas: Accioly Netto (Lyto) Millor Fernandes (Vão Gogo) Edgard de Alencar (Aladino) e Maria Luiza Castelo Branco. Foram também programas de sucesso na Rádio Tupi, protagonizada por Lourdinha Bittencourt, Salomé Cotelli, Solange França e Nilza Magrassi, ensaiadas por Paulo Gracindo, com patrocínio do Jockey Club Brasileiro.

Mas, como dissse Aristóteles, o filósofo, “tudo o que nasce começa a morrer”, e em 1964 desapareceram das páginas de O CRUZEIRO quando a revista estava em plena decadência. Mas por que, exatamente?

-“Saíram de moda, sendo substituídas por outras em carne e osso, menos ingênuas, dançarinas calistênicas de discotecas, com tendências ao nudismo, nas praias e bailes de carnaval, em biquínis microscópicos. Além do mais usavam uma gíria incompatível com a índole das minhas garotas, bem mais cultas e inteligentes.”

Na imprensa mundial o mesmo aconteceu. No princípio do século eram as “Gibson’s Girls” no Saturday Evening Post, frias e discretas, embora belíssimas, depois surgiram as “Petty’s Girls” do Squire, e em seguida as “Vargas’s Girls”, mais medíocres, do Playboy. Daí por diante os desenhos acabaram para dar lugar às máquinas fotográficas, focalizando as “coelhinhas” e “moças de calendário”, que começaram usando o “manto diáfano da fantasia”, segundo a definição de Eça de Queiroz, para atingirem rapidamente o nu frontal, com todas as suas cruas implicações sexuais. E o mesmo está acontecendo com nossas publicações ditas “só para homens”, embora mais comedidas e discretas, sob o olho da censura – de Status a Lui, passando por Ele e Ela, Homem e Playboy- vendidas nas bancas de jornais envoltas em mantos hipócritas de celofane.

*N. do E.: 26 anos exatamente.

DEPOIS DA MEIA NOITE 

Mas nem só de “Garotas” viveu Alceu Penna, grande figurinista, que em breve foi convidado a trabalhar com os “reis das noites”

-“Antes de terminar o jogo, por obra e graça do Presidente Dutra, praticamente desenhei os figurinos de todos os shows do Cassino da Urca, dirigidos por Chianca de Garcia, como: C’a cest Paris com Rey Ventura, até Vem, a Bahia te espera, ao mesmo tempo que atendia ao Golden Room, do Copacabana Palace Hotel, onde imperava, gastando milhões, a suntuosidade do barão Von Stukart, como Carrousel, cujos vestidos eram bordados com pedrarias semipreciosas. Atendi também o irrequieto Lanthos, do Cassino Icarai, bem mais modesto em seus espetáculos. Depois que roletas foram recolhidas  fiz vários shows com o imaginoso Silveira Sampaio, que encenou na boate Beguin Quem Roubou meu Samba? , No País dos Cadillacs e Brasil de Pedro a Pedro, todos de imenso êxito. Fiz ainda com Chianca de Garcia, Circo, no Teatro Carlos Gomes, para Abelardo Figueiredo, Circus, no Canecão, e para Accioly Netto, Frenesi no Golden Room do Copacabana Palace, modelos executados por Evandro de Castro Lima.”

Nos carnavais, Alceu Penna decorou durante oito anos os Bailes dos Artistas do Hotel Glória. Manteve ainda em O CRUZEIRO duas páginas de modas durante alguns anos, e vários Calendários.

Nos concursos de beleza dos Diários Associados, desenhou numerosas fantasias como a “Cearense” de Emilia Corrêa Lima, que foi Miss Brasil, e a “Baiana” de Martha Rocha, igualmente vitoriosa, e quase Miss Universo em Miami.

-“Por falar em baianas, estando em Nova York para a Feira Internacional renovei todo o guarda-roupa de Carmem Miranda, que então atuava no Broadhust Theatre, com Abott & Costelo e Jean Sablon – primeiro como atração e depois como estrela absoluta do empresário Shubert-inclusive as saias multicoloridas, os turbantes fantásticos e os sapatões de solas grossas. Desenhei também as suas fantasias quando foi para Hollywood com o Bando da Lua. No teatro declamado, forneci modelos de roupas para Isto deve ser proibido, de Cacilda Becker e Walmor Chagas, como também Sleuth de Paulo Gracindo e Gracindo Júnior.”

A FASE INTERNACIONAL

Foi naquela época que a Companhia Rhodia, por intermédio do inventivo e dinâmico Livio Rangan italo-paulista de muito talento e bom gosto, lançou os seus grandes desfiles e shows internacionais de modas, com tanta repercussão e sucesso, todos com modelos exclusivos de Alceu Penna.

Começou com a Coleção Café cujas padronagens eram desenhadas por vários pintores brasileiros de renome com desfiles em Paris (Maison de l’Amerique Latine) e Hamburgo (Hotel Atlantic) vestidos pelos famosos manequins Mila, Lucia Curia e Marucia Carnowska. Outro desfile, o Brazilian Look, esteve em New York, Chicago e Filadélfia, com cerca de quarenta criações originais.

-“Na Rhodia tive uma fase sumamente gratificante, trabalhando com uma equipe numerosa e atendido por fartos recursos financeiros. Depois dos desfiles, a criatividade de Livio Rangan expandiu-se para os shows de modas, com a presença de manequins famosos, que passavam os vestidos, artistas e cantores como apoio. Foram eles, Stravaganza, Brazilian Primitive, Momento 68, Festival do Couro e Rio 400 anos, apresentados com Gal Costa, Raul Cortez, Rita Lee, Eliana Pitman, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Nestas temporadas lancei mais de duzentos modelos. Os shows estiveram na Europa, Asia, América do Norte – especificamente, Roma, Paris, Hong Kong Libano – percorrendo depois, quase todas as capitais brasileiras em espetáculos de beneficência. A seguir, com a Ducal outros shows do mesmo gênero foram apresentados contando com Jô Soares, Wanderléa e Eliana Pitman. Foram promotores jornalisticos as revistas O CRUZEIRO e depois Manchete.”

…….……….

Embora aposentadas por Alceu, por bons e leais serviços, as “Garotas” continuam como marcas registradas do bom gosto juvenil. Vinicius de Morais, para quem “a beleza é fundamental” (com desculpa das feias…) compôs com Tom Jobim, o capolavoro da Bossa Nova, “Garota de Ipanema”, que finalmente deu nome a uma bela praça carioca. Por tudo isso, e muito mais, também o nome de Alceu de Paula Penna jamais será esquecido, como um dos maiores desenhistas do Brasil, não só na história de nossa arte como na memória daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo vivo e atuante, principalmente na revista O CRUZEIRO, que o viu nascer com suas criações e onde teve seus momentos de glória.

E a cidade do Rio de Janeiro, assim como fez com a “Garota de Ipanema deverá de ora em diante dar o seu nome a uma de  suas vias públicas RUA ALCEU DE  PAULA PENNA. E com isso fará um ato de justiça a quem levou a existência glorificando as suas adolescentes em flor.

Google lança exposições on-line com acervo histórico de moda

Por Daniela Pessoa

Jornalista

Publicado na Revista Veja-Rio (10/06/2017)

Plataforma reúne 20 000 imagens de roupas e acessórios que contam a história da moda no Brasil e no mundo, de Salvatore Ferragamo a Carmen Miranda

Apreciar os maiores tesouros da humanidade nunca foi tão simples e, principalmente, barato. Separados por milhares de quilômetros, os acervos de templos da cultura como o Musée d’Orsay, em Paris, e o MoMA, em Nova York, hoje ficam a apenas alguns cliques de mouse de distância um do outro. Em um projeto que já dura seis anos, o Google vem digitalizando a herança cultural do planeta e disponibilizando todo o conteúdo gratuitamente na plataforma Arts & Culture. Ali estão imagens de obras e artefatos de museus, galerias e institutos culturais em mais de setenta países. Na quinta (8), o site ganhou um novo e importante departamento, voltado exclusivamente para a moda.

Cerca de 20 000 peças de mais de 170 instituições podem ser apreciadas em exposições virtuais com imagens de altíssima resolução e experiências de realidade virtual. Há criações de Karl Lagerfeld para as grifes Chanel e Fendi, modelitos da espanhola Balenciaga e os sapatos de Salvatore Ferragamo usados por Marilyn Monroe e Audrey Hepburn. Em meio a essa coleção vultosa, o Rio está muito bem representado. Galerias virtuais do Museu Carmen Miranda, do Museu da Moda Brasileira, do Museu Imperial de Petrópolis e do Instituto Moreira Salles dão o tom da carioquice e brasilidade no mundo fashion. O Museu do Índio também foi incluído, com uma curiosa mostra sobre a origem e o misticismo das miçangas. “A ideia é mostrar que até mesmo o que nós vestimos é cultura”, afirma Alessandro Germano, diretor de parcerias do Google.

Fechado para visitação há dois anos, o Museu Carmen Miranda, no Parque do Flamengo, disponibilizou cinco exposições on-line sobre o exótico vestuário da cantora. Colorido, repleto de balangandãs e encimado pelo indefectível turbante de frutas tropicais, o visual virou ícone do Brasil mundo afora em meados do século passado. Batizado como “Miranda Look”, foi inspirado nas vendedoras de quitutes que se vestiam de baiana na Praça XI, no Centro. Nos catorze filmes que rodou em Hollywood, Carmen envergou figurinos que podem ser comparados, em valor histórico, aos usados por Marlene Dietrich e Marilyn Monroe. Entre os itens imperdíveis da mostra estão a roupa usada na homenagem que recebeu na Calçada da Fama, em 1941; as do filme Copacabana (1946), que a alçou ao posto de ícone da moda, e a indumentária de seu último show, em 1955. “Nunca segui modismos. Acho que a mulher tem de vestir o que lhe cai bem. Por isso, criei meu estilo próprio”, disse, certa vez, em uma entrevista.

Para realizar as novas imagens, o Google criou uma câmera especial, capaz de registrar objetos históricos e obras de arte em gigapixel, resolução maior do que a de qualquer câmera digital. A art camera, como é chamada, é equipada com laser, para guiar o foco, sonar, que se vale de ondas de alta frequência para medir distâncias, acelerômetro, para detectar vibrações, e um sistema robótico, para se movimentar. “A máquina tira várias fotos de detalhes de uma mesma peça. Em seguida, as fotografias são costuradas pelo nosso software até formar uma única imagem com qualidade de bilhões de pixels”, explica Tomás Nora, gerente de projetos da companhia. O recurso permite apreciar o traje do imperador Pedro II, do Museu Imperial de Petrópolis, por exemplo, com um grau inédito de precisão. O mesmo vale para as imagens de Otto Stupakoff (1935-2009), precursor da fotografia de moda no Brasil, em cartaz na exposição virtual na seção destinada ao Instituto Moreira Salles.

Museólogos e gestores de instituições culturais consideram a tecnologia desenvolvida pelo Google uma ferramenta poderosa no processo de democratização do acesso à arte. “Além de divulgar os museus, os tours e as galerias virtuais acabam estimulando as pessoas a visitar as exposições físicas”, avalia Marcelo Araújo, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Pouco conhecido, o Museu da Moda Brasileira, que há anos está para ser inaugurado na histórica Casa da Marquesa de Santos, em São Cristóvão, oferece aos internautas uma interessante mostra on-line sobre a origem dos leques, por exemplo. O artefato inseparável das damas da corte brasileira, além de ajudar a aplacar o calor, era um importante elemento nos códigos sociais do período imperial. Com o acessório, as mulheres sinalizavam se estavam disponíveis para um flerte ou se uma conversa estava encerrada.

Igualmente curiosa, uma coleção de carnês de baile guardados nesse mesmo museu traz preciosidades como os registros do Baile da Ilha Fiscal, o último do império. Funcionavam como uma espécie de diário, onde as moças costumavam anotar o nome dos parceiros de dança em cada festa. Uma terceira exposição da casa revela a importância do ilustrador, estilista e designer Alceu Penna (1915-1980) para a moda brasileira. Seus croquis publicados em importantes revistas entre as décadas de 30 e 70 influenciaram a maneira de se vestir no país. Seus esboços estão todos lá, na internet, acessíveis por desktops, smartphones e tablets. É só clicar, navegar e curtir muito.

Google lança exposições on-line com acervo histórico de moda

CCBB Rio abre exposição “Yes! Nós Temos Biquíni”

Publicado no Jornal do Brasil (06/05/2017)

A revolução causada por umas das peças mais icônicas do vestuário feminino é o tema da exposição Yes! Nós Temos Biquíni, que o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB Rio) abre no dia 15 de maio. A mostra comemora os 70 anos do traje que transformou o comportamento da mulher e acompanhou mudanças de paradigma, conquistas, libertações e liberalidades – tudo com um olhar bem brasileiro. “O biquíni revolucionou o mundo, mas o Brasil revolucionou o biquíni”, afirma a curadora Lilian Pacce.

A mostra reúne cerca de 120 obras, entre looks icônicos e históricos de moda praia, fotografias, pinturas, esculturas, vídeos, ilustrações, instalações, artefatos históricos e amplo material iconográfico. Performances, debates e um ciclo de cinema também fazem parte da programação da exposição, que ocupará o 2º andar do Centro Cultural até 10 de julho. A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil.               

“A moda, para além de seu propósito inicial que é vestir o corpo, sempre esteve relacionada a questões sociais, culturais, políticas e econômicas. Esta exposição traz uma diversidade, que sempre buscamos para a programação do CCBB e apresenta um diálogo entre o elemento de maior representação brasileira na moda mundial com obras de arte contemporâneas que desafiam o visitante a interpretar essas associações”, comenta o gerente-geral do CCBB Rio, Fabio Cunha.

O percurso começa com uma explicação sobre a criação do engenheiro francês Louis Réard, que ousou diminuir a calcinha de cintura alta e revelar o umbigo da mulherO percurso começa com uma explicação sobre a criação do engenheiro francês Louis Réard, que ousou diminuir a calcinha de cintura alta e revelar o umbigo da mulher

O percurso começa com uma explicação sobre a criação do engenheiro francês Louis Réard, que ousou diminuir a calcinha de cintura alta e revelar o umbigo da mulher – símbolo do vínculo e da ruptura entre duas vidas, zona erógena, centro do corpo humano e do mundo, como se percebe na obra Um.Bigo, de Lia Chaia. Réard queria que sua ideia fosse tão explosiva quanto os primeiros testes nucleares no atol de Bikini – daí surge o nome da peça. Ilustrando modas, modismo e rupturas, uma linha do tempo mostra a evolução do traje de banho, com peças originais desde o século 19 até hoje, looks que sintetizam a imagem de cada década assim como as mulheres que fizeram a fama do biquíni ao longo da história.

Na sala seguinte, o visitante descobre que historicamente, apesar de ser uma criação francesa, o crédito pela invenção do biquíni poderia caber aos índios brasileiros e sua forma de cobrir o corpo. Tangas marajoaras datadas do período pré-colombiano, cedidas pelo Museu de Arqueologia e Etnologia – USP, mostram que os trajes já eram usados por aqui muito antes do descobrimento, mas não eram percebidos como “roupa” sob o prisma da moral dos colonizadores portugueses. A sala se completa com obras de artistas nascidos em outros países, mas que escolheram o Brasil para viver, como Claudia Andujar, John Graz e Maureen Bisilliat, que representam o encantamento dos estrangeiros com nossa cultura, e também biquínis inspirados na cultura indígena.

Temas fundamentais nos dias atuais, o empoderamento feminino e questões ligadas aos padrões de beleza impostos pela sociedade fazem parte do debate proposto pela exposição. A reflexão sobre o corpo e a praia acontece na próxima sala por meio do diálogo das obras de Marcela Tiboni, Claudio Edinger e Elen Braga com criações dos estilistas Amir Slama, Isabela Frugiuele (Triya) e Adriana Degreas, além da escultura de Tiago Carneiro da Cunha. Já a relação entre moda e arte é tratada pela inspiração mútua e parcerias inusitadas – Beatriz Milhazes, Glauco Rodrigues e Jorge Fonseca para Blue Man, J. Carlos para Salinas, Gonçalo Ivo e J. Borges para Amir Slama, Maria Martins para Adriana Degreas. No centro da sala, em destaque,Stripencores, obra de Nelson Leirner de 1967 que ganha um quinto elemento criado especialmente para a mostra.

A praia como território geográfico, social e até virtual surge em cenas do dia a dia nas imagens captadas pelas lentes de Alair Gomes, Cartiê Bressão, Fernando Schlaepfer, Frâncio de Holanda, German Lorca, Julio Bittencourt, Otto Stupakoff, Pierre Verger, Rochelle Costi,  Thomaz Farkas e Willy Biondani, além de vídeo de Janaína Tschape e de escultura de Eder Santos. Como contraponto, o trabalho elaborado por nomes que ajudaram a criar a identidade da moda praia brasileira (e projetá-la mundialmente) surge em imagens icônicas: Dalma Callado em foto que alavancou sua carreira internacional nos anos 1970, feita por Luiz Tripolli, e Gisele Bündchen clicada por Jacques Dequeker no início dos anos 2000, já famosa – e ainda Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Claudia Guimarães, Daniel Klajmic, Klaus Mitteldorf, Marcelo Krasilic, Miro e Vavá Ribeiro.

Mas muito antes dos editoriais de moda, era o ilustrador e figurinista Alceu Penna quem “ditava” tendências na extinta revista “O Cruzeiro” com “As Garotas do Alceu”, verdadeiras it girlsda época. A praia é vista também pelo traço das ilustrações de Carla Caffé, Filipe Jardim e Paulo von Poser. A sala traz ainda uma videoinstalação com grandes momentos da moda praia nas semanas de moda no Brasil, e uma série de manequins com biquínis e maiôs de caráter excepcional, seja pela construção, modelagem, material ou pela criatividade em si – prova de que o biquíni é a peça mais brasileira de todas.

Na última sala, o visitante é convidado a compartilhar experiências de praia, diante das obras de Cássio Vasconcellos, Katia Maciel e Leda Catunda – e da pergunta que fica: qual é a sua praia? “A força de uma peça tão pequena como o biquíni brasileiro, basicamente quatro triângulos de tecido, está diretamente ligada ao emporaderamento feminino ao longo do último século e vai muito além da praia em si. A exposição pretende mostrar essas interfaces, seu impacto nas conquistas da mulher e o lifestyle criado em torno dele”, diz a curadora Lilian Pacce, autora do livro O Biquíni Made in Brazil.

A cenografia é assinada por Pier Balestrieri, com comunicação visual de Kiko Farkas, consultoria de arte contemporânea de Sandra Tucci, coordenação geral e produção executiva da Com Tato Agência Sociocriativa.           

Fonte: http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2017/05/06/ccbb-rio-abre-exposicao-yes-nos-temos-biquini/

Garotas folionas

Uma arlequina brasileira através do inconfundível traço do desenhista/figurinista Alceu Penna.
Autodidata, dono de um traço ágil e estilo inconfundível desenhava menus, cartazes, cenários, figurinos para shows, decorações e fantasias para bailes de carnaval, renovou inclusive a fantasia da Carmem Miranda quando esta partiu para Hollywood com o Bando da Lua.

Apesar da beleza da imagem, o que mais me chamou atenção foi o pequeno texto, assinado por A.Ladino, que serviu como legenda para a imagem aqui reproduzida.

O autor, numa brevíssima conclamação, aborda temas interessantes relacionados ao carnaval, algumas ideias soam anacrônicas e ingênuas outras permanecem na essência do DNA da folia, leiam:

Chegou a hora das garotas mostrarem as suas graças, e que tristezas não pagam dívidas, enquanto a alegria as aumenta. Folionas por instinto e formação, as garotas querem cantar e sambar, que amanhã, como diz o samba, elas não sabem se vão lá das pernas. Viva, portanto, a folia, com chope à mostra ou uísque escondidinho”.

…Tristeza não paga dívida, enquanto a alegria as aumenta!Advertia ou pregava a uma inevitável entrega? A busca da alegria nos faz inconsequentes, gastamos o que não temos em nome de prazeres momentâneos, movidos por desejos irrefreáveis.

Pior, ainda, para os que não têm opção, e segundo o autor do pequeno texto, são foliões por instinto. Nasceram com essa verve momesca. Não resistem ao tocar de um tambor. Endividarão a alma para tudo se acabar na quarta feira.

Afirma, também que as garotas querem cantar e sambar. O carnaval de rua voltou com força total e números superlativos.Nos mega blocos contemporâneos não vejo mais ninguém cantando ou sambando. Milhões de pessoas seguindo em cortejo, carros de som, mal entendendo a música que explode distorcida das caixas, parecem ter como objetivos únicos apenas beber e paquerar.

Beber é algo em comum . Quase setenta anos depois, é para quase a totalidade das folionas e foliões o combustível essencial. Nossa personagem da commedia dell’arte estilizada precisava beber uísque escondidinha. O chope venceu o uísque. Ninguém bebe destilado no carnaval e se quiser beber não precisa esconder. As grandes cervejarias patrocinam blocos. Cultivaram o hábito. A ideia de beber chope e ir ao bloco está associada. Multidões bebendo e se desfazendo do que foi bebido, num ciclo interminável. É assim hoje. Virou um grande negócio.

Finaliza o texto, seguindo a tradição romana – Carpe Diem, aproveitem a vida. Com dívida ou sem, com uísque ou chope, cantando, sambando , paquerando, o melhor mesmo é se jogar porque, como dizia o samba, nossas folionas não sabem se vão lá das pernas no imprevisível amanhã .

http://muitoscarnavais.com.br/2016/12/19/754

Análise das ilustrações de Alceu Penna na revista “O Cruzeiro” como referência de moda da década 1950

SOCIEDADE DOM BOSCO DE EDUCAÇÃO E CULTURA FACULDADE DE ARTE E DESIGN – FAD / FACED

Jessica Tavares de Oliveira

Maria Alice Gonçalves Oliveira Rocha Tolentino

Vanessa de Souza Silva

INTRODUÇÃO

Desde criança Alceu Penna causava admiração em seus amigos com sua habilidade para o desenho. Ele tentou cursar arquitetura na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, mas seu desejo de trabalhar com a arte foi mais forte, e em 1938 foi inaugurada sua coluna para a revista O Cruzeiro, intitulada “As Garotas do Alceu”. Durante os 26 anos em que foi publicada, a coluna teve repercussão na vida de suas leitoras.
Na época um dos meios de comunicação mais acessível a população era o impresso. Na década de 1950, a revista “O Cruzeiro” foi considerada a publicação de maior importância, sendo a primeira a conter ilustrações coloridas, alcançando leitores do todo o Brasil.
Alceu foi uma presença marcante na revista “O Cruzeiro”, pois contribui com as matérias sobre design de moda, sugestões de fantasia e dicas de beleza. Além disso, seu mais marcante trabalho no impresso foi a coluna “As Garotas”, incluía diversos assuntos, o que integrava textos humorados de alguns redatores às imagens de belas garotas vestidas de acordo com a proposta de design de moda da época.
O vestuário feminino da década de 1950 foi bem marcante, principalmente as referências como o New Look do designer Christian Dior, o delineado e óculos em estilo “gatinho”, os shorts e calças, ou seja, designs que carregavam a feminilidade esquecida nos tempos de guerra e traços de uma crescente liberdade no modo de vestir das mulheres.
Através das ilustrações de Alceu foi possível identificar com facilidade o design da indumentária da década 1950. O ilustrador representava as tendências internacionais no cotidiano das brasileiras, principalmente das cariocas, pois era no Rio de Janeiro que “As Garotas” eram retratadas.
8

BREVE HISTÓRIA DE ALCEU PENNA

Rosto cheio, baixinho e peso um pouco acima da média, Alceu Penna levava desvantagem física em relação aos colegas do seu tempo de colégio, mas isso não mudava em nada sua popularidade, devido seu talento para o desenho.

Nascido em 1° de janeiro de 1915 em Curvelo, uma pequena cidade de Minas Gerais, situada em um grande chapadão na região central do estado. Desde criança era destacado por suas habilidades com os desenhos, e seus colegas admiravam sua rapidez para de retratar pessoas com lápis e papel, e fazer charges e caricaturas (JUNIOR, 2011, pag. 19 e 22).
Filho de Christiano Penna e Mercedes de Paula Penna, Alceu teve 10 irmãos:
Evaristo, Josaphat, América, Neide, Cláudio, Aloísio, Adalto, Maria Carmem, Terezae Christiano. Ao terminar o ginásio, como mandava a tradição, todos os filhos homens eram mandados para Diamantina ou Ouro Preto, cidades que tinham faculdades. Já as mulheres cursavam apenas o magistério e recebiam uma educação doméstica para se tornarem esposas exemplares (JUNIOR, 2011, pag.29). Josaphat, Cláudio e Adalto foram enviados para cursar medicina, sendo que esse último citado, no meio do curso, mudou para odontologia. Evaristo se tornou engenheiro e Christiano funcionário público. Aloísio foi cuidar das terras do pai como um bem-sucedido criador de gado de Curvelo.

Desde novo Alceu dizia que queria ser um pintor famoso, o que seu pai considerava uma blasfêmia. Mesmo assim, ele insistiu em seu desejo extravagante e seguiu pelos caminhos da arte (JUNIOR, 2011, pag. 29).
Em janeiro de 1932, com 17 anos, mudou-se para casa dos tios Alexandre  e sua esposa Maria Isabel no Rio de Janeiro, para cursar a faculdade de arquitetura, a pedido de seu pai, na Escola Nacional de Belas Artes, mas não chegou a concluir o curso.

Então, Alceu focou em seus talentos artísticos e passou a visitar jornais e revistas para divulgar e vender seus desenhos. (JUNIOR, 2011, pag. 34).
A contribuição de Alceu Penna para a ilustração de moda causou grande impacto e impressionou, por exemplo, o cartunista Ziraldo: “Não tenho, porém, conhecimento, na história de nossa imprensa, de nenhum outro artista que tenha 9 influenciado, com seu trabalho, o comportamento de toda uma geração” (JUNIOR, 2011, pag. 306).
Em 1975, com 60 anos, o ilustrador sofreu um infarto que acabouprejudicando suas funções motoras. Depois disso, ele ainda tentou desenhar, mas não obtinha o mesmo resultado. Em um domingo, 13 de janeiro de 1980, AlceuPenna sofre morte cerebral, e pouco depois, morre. A admiração por seu trabalho continuaria viva por muito tempo. (JUNIOR, 2011, pag. 29).
2.1

A trajetória do ilustrador Alceu Penna

Ao longo de sua carreira Alceu Penna desenvolveu vários trabalhos. Assim que se mudou para o Rio de Janeiro em 1932, seu objetivo era fazer faculdade, para buscar uma condição estável. Mas ele preferiu investir em seu talento para o desenho gráfico, acreditando que assim poderia chegar ondeexatamente queria (JUNIOR, 2011, pag. 48).
A primeira publicação importante de Alceu foi uma série de ilustrações no começo de 1933, para o Suplemento Infantil de O jornal, de Chateaubriand. Esse trabalho permitiu que ele tivesse acesso a revista do mesmo grupo, O Cruzeiro, onde começou com ilustrações para sua capa e mais tarde desenvolveu a coluna “As Garotas”, que começou em 1938 e manteve-se ininterruptamente até 1964 (JUNIOR, 2011, pag.51 e 90).
A partir desse momento, a vocação do ilustrador abriu portas para outras publicações importantes da época, como a capa desenvolvida para a revista “Cidade Maravilhosa”, em 1936.

Ele ainda contribuiu com ilustrações para as revistas “Esquire” (Estados Unidos da America), em 1940, e as revistas “Tricô e Crochê”, em 1951, e “Manequim” para assuntos de noiva e carnaval, em 1974. Além de “O Jornal”, que contou com seus desenhos para sua coluna “Suplemento Feminino”, entre 1963 a 1965. 1
As ilustrações para livros também foram frequentes. Seus trabalhos aprecemem “Primeira Leitura”, de Luiz Gonzaga Jr. (1939), “O Mystério do Castelo Cor de Rosa” (1939), “Chapeuzinho Vermelho” (1940), “A Estrela Azul”, de Murilo Araújo

1Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
10
(1940), “Detalhes de Elegância e Beleza”, de Elza Marzulo (1948), capa do livro
“Gente Miúda”, de Albano Paulo de Paula (1948) e ilustrações para “ABC das Mães”,de Odilon Andrade (1969).2
De 1946 a 1952

Alceu trabalhou na execução de uma série de calendário para a empresa Moinhos Santista, onde desenhou garotas com uma sensualidadealém de sua época. Desenvolveu também cartazes e propagandas para muitas marcas, como Cigarros Odalisca e Casa Levy (ambas em 1939).3
O ilustrador era decidido a mudar-se para os Estados Unidos e o êxito da coluna As Garotas não abalou essa decisão. Convenceu seu chefe e amigo Acioly Neto a enviá-lo como correspondente da revista O CRUZEIRO para cobrir a Feira Mundial de Nova York. (JUNIOR, 2011, pag. 96)
Nas décadas de 1950, 1960 e 1970 desenvolveu figurinos e cenários para diversos shows e espetáculos teatrais.

Em 1954 criou uma fantasia para Martha Rocha participar de um concurso de beleza e para Emília Corrêa de Lima concorrer à Miss Brasil 1955. Em 1939, Alceu ainda teve a oportunidade de recriar o figurino de Carmem Miranda (JUNIOR, 2011, pag.102). Seus trabalhos de fantasias e figurinos lhe renderam alguns prêmios.4
A contribuição de Alceu Penna para os figurinos da Companhia Rhodia começou em 1962 e durou até 1975 e incluía desenhos para o caderno de orientação de moda da marca e contribuições para os desfiles. Ele se dedicou tanto a este trabalho que teve que deixar a coluna “As Garotas” para cumprir seus compromissos com a Companhia (JUNIOR, 2011, pag. 96 e 256).
Apesar de Alceu Penna ter ganhado tamanha notoriedade após anos de variados trabalhos, ele nunca se esqueceu da verdadeira essência de seu trabalho: a arte. Muitas noivas subiram ao altar com criações dele, sem que cobrasse um centavo, apenas pela satisfação vê-las felizes 5.

Dentre todas as suas realizações a que mais se destacou foi a coluna “As Garotas”, na revista O CRUZEIRO. A partir dessas publicações, ele conseguiu transmitir seus conhecimentos de moda, que acabaram por refletir no comportamento das mulheres da época.

2Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
3Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
4Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832010000100009&script=sci_arttext>
Acessado em 09/04/2016.
5Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832010000100009&script=sci_arttext>
Acessado em 09/04/2016
11

https://www3.faced.br/wp-content/uploads/2017/02/AN%C3%81LISE-DAS-ILUSTRA%C3%87%C3%95ES-DE-ALCEU-PENNA-NA-REVISTA-%E2%80%9CO-CRUZEIRO%E2%80%9D-COMO-REFERENCIA-DE-MODA-NA-DECADA-DE-1950.pdf

Esboços sobre a trajetória de Alceu Penna nos Diários Associados: Moda, Corpo e Identidades

Sketches about the Alceu Penna’s tragetory in Diários Associados: fashion, body and identities.
JAQUELINE MORAES DE ALMEIDA¹

Alceu de Paula Penna nasceu em 1915, na cidade de Curvelo, MinasGerais. Foi um importante colaborador nas revistas dos Diários Associados. No semanário O Cruzeiro, Alceu ganhou destaque pela coluna de humor “As Garotas”, que circulou de forma ininterrupta entre os anos de 1938 e 1964. Já no mensário A Cigarra – revista lançada em 1914 por Gelásio Pimenta e adquirida por Assis Chateaubriand na primeira metade da década de 1930 –Pennafoi reconhecido por seu trabalho junto ao suplemento “A Cigarra Feminina”, dirigido pela jornalista Helena Ferraz de Abreu. No segmento, foi responsável pelas ilustrações das seções “Elegância e beleza”, assinada por Elza Marzullo; “Mocinha”, de Tia Marta;
“O marido de madame”, HQ escrita por Álvaro Armando; entre outras. Diante dos programas relacionados à preservação de uma identidade feminina, divulgados pela imprensa, refletiremos sobre a importância dos trabalhos desenvolvidos pelo artista.

Palavras-chave
Cultura Visual. Imprensa. Gênero. Alceu Penna. Moda.
Abstract
Alceu de Paula Penna was born in 1915 at Curvelo, Minas Gerais. He was an important contributor in Diários Associados magazines. In a weekly O Cruzeiro, Alceu gained prominence for his work “As Garotas”, a column of humor that circulated continuously between 1938 and 1964. In a monthly publication A Cigarra, magazine launched in 1914 by Gelásio Pimenta and get by Assis Chateaubriand in the first half of 1930’s,he was acknowledged by his works with the supplement “A Cigarra Feminina”, directed by the journalist Helena Ferraz de Abreu. In that segment, he was responsible for the illustrations of sections “Elegância e beleza”, signed by Elza Marzullo; “Mocinha”, by Tia Marta; “O marido de madame”, comics written by Álvaro Armando; etc. Before programs related to preservation of a female identity, published by the press, we will reflect about na importance of works developed by the artist.

Kewords
Visual Culture. Press. Gender. Alceu Penna. Fashion.
___________________________________
¹ Mestranda do Departamento de História da UNICAMP
E-mail: [email protected]

http://revistas.utfpr.edu.br/ap/index.php/iconica/article/view/24

Livro revive as apresentações grandiosas da Rhodia na Fenit, nos anos 60

Estilistas, modelos e jornalistas relembram os desfiles-shows da companhia

oglobo.globo.com

POR GILBERTO JÚNIOR

RIO — Enquanto a Europa borbulhava nos anos 60 com a invenção da minissaia e o futurismo de Pierre Cardin, Paco Rabanne e André Courrèges, a moda brasileira começava a ganhar uma cara só sua. Dener Pamplona de Abreu se firmava como um dos estilistas mais festejados da década. Clodovil Hernandes e Guilherme Guimarães também davam o que falar. Mas a cereja do bolo eram os desfiles da Rhodia na Fenit (Feira Nacional da Indústria Têxtil), em São Paulo. Pelas mãos do publicitário italiano Livio Rangan, a companhia de origem francesa fez história, incentivando a indústria nacional com seus shows megalomaníacos, com forte influência de nossa cultura.

— A ideia era popularizar os fios sintéticos que a empresa produzia. As roupas eram feitas pelos costureiros da época, como o próprio Dener — conta Maria Claudia Bonadio, autora do livro “Moda e publicidade no Brasil nos anos 1960”, lançado recentemente, que tem como alvo os desfiles e campanhas da Rhodia. — Na publicação, falo bastante do show Stravaganza, de 1969. O espetáculo teve inspiração circense e levou para o palco leão, elefante e trapezistas. Gal Costa foi a estrela (não faltava música nas apresentações).

Indicado por Dener, o gaúcho Guilherme Guimarães, que fez fama no Rio, diz que tinha total liberdade. Ele podia fazer o que quisesse, desde que usasse as fibras sintéticas da empresa.

— Os sintéticos foram vistos com maus olhos. Nossas clientes de alta-costura só faziam vestidos com seda puríssima, que amarrotava na mala de viagem. A vantagem do sintético era justamente não amassar — comenta Guilherme, deixando claro que Clodovil não criava para a Rhodia. — Dener não deixava — diverte-se. — Dener era o meu melhor amigo, um encanto. Ele, inclusive, ameaçou não participar de um dos desfiles da companhia caso o Livio Rangan não me colocasse no time de costureiros. Rangan tinha uma visão incrível e um extremo bom gosto.

Natural de Trieste, Rangan, morto em 1984, foi uma peça importantíssima na engrenagem fashion nacional. Com as publicidades e os espetáculos na Fenit, ele ajudou a criar uma identidade para a moda brasileira, ao mesmo tempo que difundia os fios da multinacional.

— Os desfiles da Rhodia eram tudo o que tínhamos na década de 1960. Eram muito bem feitos — diz a consultora de moda Hiluz Del Priore.

As modelos eram as estrelas do espetáculo

Nos shows da Rhodia, tal como em qualquer outro desfile-espetáculo, as modelos tinham lugar de destaque. Exclusivas da companhia, elas viajavam à beça, fotografavam intensamente e faziam as comentadas apresentações na Fenit — o momento máximo. Entre todas as manequins, Mila Moreira, hoje atriz, era disparada a mais badalada.

— A Rhodia foi um marco, a TV Globo dos anos 1960. A gente ficava conhecida no Brasil inteiro. Não importava a cidade, sempre tinha alguém nos esperando — relembra Mila, que fez seu primeiro trabalho para a companhia em 1963, aos 16 anos. — Quando comecei, modelo era sinônimo de puta. As mães proibiam as filhas de andarem comigo.

Mila ficou no posto até 1974 e diz que fazia sucesso por ser “normal”, mais próxima da mulher brasileira comum

 

 

— Eu era a mais cheinha e tinha bumbum. Era a mais moleca e desengonçada. O público adorava. Mas minha mãe dizia que eu era a pior do grupo. Por um lado, foi bom. Ela manteve meus pés no chão. Nunca fui dada a estrelismo. Mas eu não tinha confiança alguma.

Guilherme Guimarães não esconde: Mila não era somente a preferida do Brasil. Ela também era a sua favorita.

— Nos encontramos muito no aeroporto, na ponte aérea Rio-São Paulo. A gente gosta de reviver aqueles tempos — entrega Guilherme.

Em 1968, a carioca Cristina Caldas, radicada em Nova York, entrou para o time de manequins da empresa, que buscava novos rostos. O cenário estava mudado.

— A profissão já tinha um certo glamour — pontua Cristina. — O Livio Rangan era muito rígido. Ele regulava a comida para a gente não engordar. Sem falar que ficávamos confinadas no hotel. Éramos jovens e ele era responsável por todas nós.

Mila confirma o protecionismo de Rangan:

— Ele pegava no pé. Não deixava a gente sair. Lembro que uma vez pulamos a janela para curtir. Atualmente, todo mundo faz o que quer. O italiano era um gênio — elogia a atriz, que teve a oportunidade de rodar o mundo como manequim da casa. — Estive no Japão, Itália, Tailândia, Portugal, Líbano…

Também em 1968, Suzete Aché, jornalista do ELA, fez sua estreia nas publicidades da Rhodia. Na sessão de fotos, ela vestiu a moda teen da época desenhada por Alceu Penna, um dos colaboradores mais conhecidos da empresa.

— Era divertido. Um dia a banda “Os Mutantes” veio nos visitar durante um ensaio. Foi a maior emoção. Também fiz desfiles na Fenit e pelo país. Rangan era o mentor de tudo. Uma pessoa cativante e grande conquistador. Ele foi namorado da Ully Duwe, a mais bonita das modelos da Rhodia — recorda Suzete.

Ully, aliás, passou por maus bocados no show Stravaganza, quando foi atacada por um leão. Ela narrou o episódio no livro “História da moda no Brasil”, de João Braga e Luís André do Prado: “De repente, ele abriu um bocão em que cabia meu bumbum inteiro! Mas não foi nada; só deu um beliscãozinho!”.

Segundo Cristina, as roupas desfiladas na Fenit e fotografadas nos ensaios eram confortáveis e desejáveis. E poderiam ser usadas agora, de tão modernas que eram.

— Mas a empresa vendia os fios, não a moda — esclarece Maria Claudia Bonadio.

Livio Rangan deixou a Rhodia em 1970, no mesmo ano em que a companhia fez seu último desfile-show na feira.

— Foi um período impactante para a moda. A Rhodia vendia o Brasil — resume o consultor de moda Lula Rodrigues.

Leia mais: https://oglobo.globo.com/ela/moda/livro-revive-as-apresentacoes-grandiosas-da-rhodia-na-fenit-nos-anos-60-16948509#ixzz4jjbkBh8K
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