Tio Alceu e a Música

Por Gilberto Penna Mascarenhas

Músico e Cronista.

Falar sobre Alceu Penna, sobre sua obra, falar do Alceu Penna, o grande desenhista e estilista, reconhecido e respeitado em todo o mundo, isso sim, é uma tarefa extremamente difícil!
Mas falar do meu Tio Alceu é uma tarefa fácil… sabe por quê?

Tio Alceu era um desses tios que amavam demais seus sobrinhos e era tanto carinho, tanto zelo, tanta atenção que dispensava a cada um de nós, que tínhamos a impressão de ser o único sobrinho que ele tinha!

A família Paula Penna reunida em Belo Horizonte, Natal 1949.

Foi Tio Alceu quem me ensinou a gostar das músicas de Cole Porter, dos irmãos Gershwin, de Irving Berlin, de Lena Horne, de Peggy Lee e, principalmente, dos maravilhosos musicais da Metro e da Brodway que ele assistia quando ia a trabalho a Nova York.

Foi também através da preciosa discoteca do tio Alceu que fui apresentado aos grandes cantores franceses – George Brassens, Françoise Hardy, George Moustaki, Pierre Bachelet e muitos outros.
A partir dos meus 15 anos quando ia ao Rio em férias e me hospedava no seu lindo apartamento na Rua Senador Vergueiro e até mesmo quando eu já estava casado e ia visitá-lo, era praxe Tio Alceu me apresentar as novidades musicais do mundo, pois sua enorme discoteca era sempre atual e riquíssima, com discos adquiridos nas suas freqüentes viagens a Europa e aos Estados Unidos.

Como ele notava que eu não conseguia traduzir na hora as letras das músicas, ora em francês, ora em inglês, ele ia fazendo tradução simultânea o que eu achava o maior barato!
Assim pretendo colocar aqui nessa crônica algumas músicas que escutava junto com ele.

A cada nota, a cada frase da música, ele vibrava. Permanecia sempre de pé, para ir alternando as musicas no toca-discos Garrard, pois na verdade era tal a sua ânsia musical que não esperava a música chegar ao final.

Em homenagem ao Tio Alceu: “THEY CAN’T TAKE THAT AWAY FROM ME”, de Ira e George Gershwin, nas vozes e no lindo bailado da saudosa dupla Ginger Rogers & Fred Astaire.


Assista no youtube:
https://youtu.be/WcD8h1LWai8

Alceu Penna inspira acadêmicos de Moda em nova exposição do Espaço Cultural Feevale

Mostra “Alceu Penna é show! Figurinos & fantasias” abre dia 17 de outubro, com palestra de Manon Salles
Fantasia de pierrete, criada pelas acadêmicas Alessandra Moraes, Giovana Ghiorzi e Vitória Proença. Foto: Ana Antunes

O grande artista Alceu Penna, que criou figurinos para Carmem Miranda e ditou moda, será a inspiração para a nova mostra do Espaço Cultural Feevale.

A exposição “Alceu Penna é show! Figurinos & fantasias” começará dia 17 de outubro, no quarto andar do Teatro Feevale. Nela serão apresentados 12 figurinos e fantasias dos espetáculos do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, entre 1934 – 1975, entre outros, que foram reconstituídos por 31 acadêmicos das turmas de Projeto de Figurino do curso de Moda da Universidade Feevale, peças de vestuário originais do acervo, esboços e croquis, além do trabalho do artista como ilustrador.
De acordo com a professora da disciplina Projeto de Figurino, Ana Hoffmann, que também é uma das curadoras da exposição, a exibição enfatiza a importância e a representatividade de Alceu Penna para a história da moda brasileira. “É uma exposição que reúne fragmentos do trabalho artístico desse criador múltiplo. A exposição ainda exibirá fotos que narram parte da sua vida e obra”, explica. A mostra também tem curadoria de Luiza Penna, sobrinha de Alceu Penna.
 
A abertura terá a convidada especial Manon Salles, doutora pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu tese sobre conservação de acervos têxteis de figurinos e de roupa social (Moda). O tema da palestra será Os figurinos e sua materialidade enquanto um acervo vivo, que abordará questões contemporâneas sobre a conservação de coleções e acervos de figurinos em museus e companhias e sua função enquanto objeto de pesquisa.
Manon é mestre em Ciências da Comunicação pela mesma Universidade, onde coordenou o Núcleo de Pesquisa Centro de Estudos da Moda. Atua como docente em diversas universidades na graduação e pós-graduação e, também, é consultora para criação e desenvolvimento de cursos, congressos, projetos culturais e exposições de moda e da arte.
Ao longo dos 30 dias de exposição, estão previstas ações educativas, como oficinas e palestras vinculadas à temática da exposição. A programação completa pode ser conferida no serviço, mais abaixo.
 
 

SERVIÇO:

Exposição Alceu Penna é show! Figurinos & fantasias
Local: Espaço Cultural Feevale, 4° andar do Teatro Feevale (ERS-239, 2755, Novo Hamburgo/RS)
Abertura: 17 de outubro, às 19h30min, com a palestra Os figurinos e sua materialidade enquanto um acervo vivo, de Manon Salles
Visitação: gratuita, de 17 de outubro a 18 de novembro
Horários: de segunda a sexta-feira das 14h às 18h. O agendamento de visitas pode ser feito pelo email [email protected] ou pelo telefone (51) 3586-9235
Curadoria: professora Ana Hoffmann e Luiza Penna
Coordenação do Espaço Cultural Feevale: professores Anderson Luiz de Souza e Laura Ribero Rueda
 
 

AÇÕES EDUCATIVAS

  • 17 de outubro, às 19h30min – Abertura da exposição e palestra Os figurinos e sua materialidade enquanto um acervo vivo, com Manon Salles
  • 31 de outubro, às 20h – Palestra A moda de Paris e o olhar de Alceu Penna, com o professor Raphael Sholl
  • 9 de novembro, às 14h – Alceu Penna – Inspirando coleções, com a professora Joeline Lopes
  • 9 de novembro, às 20h – Aula aberta de desenho de observação, com o professor Anderson Luiz de Souza
  • 10 de novembro, às 14h – Oficina aberta de desenho de vestuário, com o professor Anderson Luiz de Souza
  • 14 de novembro, às 14h – Oficina de construção de máscaras de Carnaval, com a professora Ana Hoffmann

    Veja mais: http://feev.as/2d7a229

Desfile do Curso de Moda homenageia as Garotas do Alceu

Criações de 57 alunos foram apresentadas nas noites de segunda e quarta-feira.

Durante 26 anos, entre 1930 e 1960 o desenho de moda brasileiro foi dominado por Alceu Penna, ilustrador que deu vida às Garotas do Alceu. Toda semana, as personagens do ilustrador chegavam às bancas na revista O Cruzeiro, ditando as tendências de moda da época. Eram como as atuais it-girls.

Em 2015 é comemorado o centenário de Alceu Penna, e para marcar a data, três turmas da disciplina de Produção de Moda, do curso de Moda da Universidade Feevale criaram e apresentaram 57 looks inspirados nas Garotas do Alceu. As criações foram apresentadas nas noites de segunda e quarta-feira, 22 e 24 de junho, em desfile realizado no Câmpus II da Feevale.

Na noite de ontem o desfile contou com a presença da sobrinha de Alceu Penna, Luiza Penna de Andrade. Segundo ela, foi uma surpresa saber que as pessoas ainda veem o trabalho do ilustrador como referência. “Fiquei muito feliz e muito surpresa com esse desfile. No Rio Grande do Sul é a primeira vez que é feito um evento em homenagem à ele. É muito gratificante ver pessoas tão novas, que estão começando agora na moda, se basearem na obra do Alceu. Ele com certeza gostaria muito de presenciar esse tipo de iniciativa”, disse Luiza.

 

Confira os looks:

https://www.feevale.br/acontece/noticias/desfile-do-curso-de-moda-homenageia-as-garotas-do-alceu

 

Exposição “Alceu Penna é 100!” destaca mineiro Alceu Penna, guru da moda no Brasil dos anos 30 a 60

Reunião de acervo celebra centenário de nascimento do artista, com ênfase nas criações de pin-ups brasileiríssimas

Release da exposição “Alceu Penna é 100!”
 
Artista gráfico, figurinista, designer e estilista, o mineiro Alceu Penna (1915-1980) completaria 100 anos em janeiro. Nascido em Curvelo, o artista deixou um precioso legado: foi pioneiro dos quadrinhos no país na década de 1930; ditou moda dos anos 1930 a 1960 – sobretudo por meio da seção “As garotas” publicada na revista O Cruzeiro; e ensinou a brasileira a adotar novos padrões de feminilidade. Penna renovou o visual de Carmen Miranda, já estrela internacional: levam a assinatura dele turbantes, camisas listradas e o chapéu panamá que a brazilian bombshell eternizou.
A exposição ‘Alceu Penna é 100’, em cartaz no Centro de Referência de Moda de Belo Horizonte, traz um pouco da imensa obra do curvelano, destacando sobretudo suas brasileiríssimas pin-ups. Organizada pela família com o apoio do Centro Universitário UNA e viabilizada por crowdfunding, a mostra tem tudo para encantar as novas gerações.Foram programadas também atividades paralelas relacionadas à obra de Penna. Nesta quinta-feira, 30, às 15h, mesa-redonda vai abordar seu trabalho como figurinista e as formas como ele representou graficamente o casamento e a juventude. A historiadora Maria Claudia Bonadio e Gabriela Ordones Penna, mestre em moda, vão conversar com o público.

Cursos estão programados. Informações pelo site do projeto.


ALCEU PENNA É 100
Centro de Referência da Moda, Rua da Bahia, 1.149, Centro. De terça a sexta-feira, das 9h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 14h. Até 16 de agosto. Informações: (31) 3277-4384.

Leia mais:  http://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2015/07/30/noticia-e-mais,170085/exposicao-mineiro-alceu-penna-guru-da-moda-no-brasil-dos-anos-30-a-60.shtml
 

Centenários 2015: Alceu Penna traçou e coloriu uma ode à beleza

Por Raphael Vidigal

Escritor, letrista e repórter; publicado em 14/05/2015

“Sol, s.m.
Quem tira a roupa da manhã e acende o mar
Quem assanha as formigas e os touros
Diz-se que:
se a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona
Estar sol: o que a invenção de um verso contém”    Manoel de Barros

 

Oliviero Toscani, fotógrafo italiano, afirma que “Caravaggio e Michelangelo, sim, eram publicitários”, ao contrário dele, conhecido por campanhas polêmicas da marca Benetton. E justifica: “Criaram imagens que reproduziam o ideal de beleza no qual a Igreja Católica acreditava”. Para alguns artistas, o adjetivo “moda” é insuficiente. Alceu Penna, mineiro de Curvelo, que tem o centenário de nascimento comemorado neste ano de 2015, é um deles. Célebre pela criação de “As Garotas” na revista “O Cruzeiro”, de 1938 até 1964, Alceu transitou por categorias de entretenimento mantendo o ofício afiado na ponta do lápis. Assinou fantasias de carnaval e peças para desfiles da Rhodia. Se como estilista Penna é quase um solitário no país, ao lado de nomes como Clodovil, Dener, Zuzu Angel e Ronaldo Fraga, é possível constatar no desenho uma larga tradição nacional, especialmente na caricatura, isso sem mencionar mestres da pintura como Tarsila do Amaral e Portinari

Essa, portanto, é a principal singularidade do desenho de Alceu Penna, pois, ao mesmo tempo em que serve a interesses do mundo publicitário, do entretenimento, da moda, oferece por esse caminho uma leitura sensual, rebelde, libertadora. Nessa dicotomia pouco usual consiste o segredo da longevidade do artista. Em J. Carlos e Ziraldo, para exemplificar por meio da comparação, há o deboche. Millôr, Jaguar, Henfil e outros, tendem para a arte plástica que segue a um modelo distante das formas gregas e logo harmônicas do conceito de beleza. Alceu Penna coloriu e traçou as curvas das mulheres brasileiras naquele fragmento da tentação: no que de proibido tem de mais deleitoso. A obra de Alceu é, por fim, uma ode à beleza. Que o poeta Baudelaire assim definiu: “Ritmo, perfume, luar, ó minha rainha! – Menos feio o universo e leves os minutos?”.

Fonte: http://www.esquinamusical.com.br/centenarios-2015-alceu-penna-tracou-e-coloriu-uma-ode-a-beleza/

 

Curvelo comemora 100 anos de Alceu Penna

 

De 13 de fevereiro a 12 de abril, o Centro Cultural de Curvelo, na Praça Central do Brasil (Estação) exibe as memórias de um dos mais queridos e ilustres curvelanos: Alceu Penna.

Uma mostra traz boa parte do acervo do estilista, ilustrador e grande artista que foi responsável por capas memoráveis de várias revistas e periódicos, como a revista O Cruzeiro. Alceu de Paula Penna faria 100 anos em janeiro deste ano ( os registros da família mostram 1º de janeiro como o dia do seu nascimento, segundo o historiador e assessor especial da Prefeitura, Newton Vieira, embora boa parte das imprensa comemore no dia 10). Em recente reportagem, o jornal Estado de Minas publicou quatro páginas em homenagem ao artista curvelano.

“Uma feliz reunião de talentos. Para comemorar o centenário de ALCEU PENNA, Ivan Penna organiza e torna real a exposição ALCEU, 100 ANOS. Tio e sobrinho, dois craques em captar o que há de mais bonito nas “Garotas”, que são a essência da beleza, da malícia e do charme da mulher brasileira – e também um resgate de um Brasil onde quase tudo era bem mais legal. O que era privilégio da família Paula Penna e da geração 40/50/60 está à disposição de um grande público: a arte de um curvelano que, do sertão mineiro se tornou universal. E, imortal”, diz a Secretária de Cultura, Marivete Alves Barbosa, entusiasta da exposição.

Serão expostos: 60 exemplares da revista O Cruzeiro, que fazem parte do Acervo Municipal de Curvelo Newton Correa; 9 peças de vestuário desenhadas por Alceu Penna, pertencentes a particulares; pinturas e desenhos originais de propriedade da família Paula Penna; peças executadas por Alceu para o Bazar Beneficente dos Diários Associados; um lenço de seda comemorativo dos 400 anos do Rio, de acervo particular; copias de originais de desenhos completos e inacabados do acervo particular de Alceu Penna; calendários Santista originais; fotografias de Alceu Penna.

O pioneiro da moda

Considerado o primeiro estilista brasileiro, o mineiro Alceu Penna ditou os modelitos das brasileiras por mais de 30 anos. As “Garotas do Alceu”, que estampavam páginas de grandes revistas, são relembradas agora, em seu centenário.

Por Geórgea Choucair

O estilista Alceu Penna saiu de Curvelo e ganhou fama no Rio: desenhos que inspiravam as mulheres (foto: Arquivo Estado de Minas)Na linguagem atual, elas seriam chamadas de it girls, por ditarem a moda e servirem de inspiração para milhares de mulheres. Entre 1938 e 1964, eram chamadas de “Garotas do Alceu” e se tornaram razão de alvoroço do público feminino. Do mesmo jeito que as mulheres de hoje fazem questão de copiar as roupas, acessórios, penteados, comportamento e gestos das it girls, no passado, essa modelos ditavam moda. Na realidade, tratava-se de desenhos que saíam da cabeça fervilhante e mãos ágeis de Alceu Penna (1915-1980), um mineiro que deixou Curvelo para fazer fama no Rio de Janeiro, então capital federal, e até no exterior. Seus desenhos de belas mulheres com modelos coloridos e de vanguarda eram publicados semanalmente nas páginas da revista O Cruzeiro, dos Diários Associados.

Em uma época em que não havia lojas de roupas prontas, era Alceu quem ditava os modelitos da mulherada. “Não existia televisão. As mulheres acompanhavam a moda em cinema e revista”, diz Gabriela Ordones Penna, estudiosa da obra do tio-avô há 10 anos. As outras revistas costumavam usar fotos de agências internacionais para divulgar a moda da época. “Era difícil a mulher brasileira se identificar”, diz Gabriela. “Os desenhos de Alceu vieram para privilegiar a cultura e costumes brasileiros, com olhar no exterior.”

Alceu Penna começou a desenhar ainda criança, inclusive com giz de alfaiate, na pacata Curvelo. Mas a sua história ganha destaque mesmo ao se mudar para o Rio de Janeiro, aos 17 anos, onde foi estudar na Escola Nacional de Belas Artes e fez carreira em produções gráficas diversas. Desenhou para O Jornal, O Globo Juvenil, A Cigarra e foi um dos pioneiros na produção de quadrinhos. Mas foi com a coluna “Garotas do Alceu” que se consagrou no Brasil inteiro. Elas eram saudadas na imprensa da época como se fossem modelos reais, garotas que tinham “Yumpf”, ou seja, “it”.

Gabriela conta que as “Garotas do Alceu” foram encomendadas por Accioly Netto, editor-chefe d’O Cruzeiro, que pediu ao desenhista para criar as Gibson Girls (mulheres provocantes pintadas pelo artista norte-americano Charles Dana Gibson em 1887) brasileiras. “Assim nasceram as garotas”, diz. Elas tinham olhos maiores, boca mais carnuda e feições trabalhadas. “Alceu reinventou as pin-ups brasileiras”, diz o estilista mineiro Ronaldo Fraga.

Maria Carmen, irmã de Alceu Penna: vestido de noiva assinado pelo irmão famoso (foto: Álbum de família)

As modelos criadas por ele traziam um toque sensual e, ao mesmo tempo, uma dose de recato, pois eram publicadas em revista de circulação nacional voltada para a família. Mas as belas jovens apareciam com trajes mais ousados nos calendários distribuídos pela empresa Moinho Santista. A partir daí, Alceu Penna se transformou também em estilista e assinou figurinos de famosas montagens do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Nessa época, ficou amigo de Carmem Miranda, tornando-se uma espécie de consultor informal da estrela. Na década de 1960, criou modelos para os famosos desfiles da Companhia Rhodia, que lançavam tendências.

Alegre em família, munido de ironia fina, Penna gostava de contar piadas. Tinha 11 irmãos, nunca se casou e não deixou herdeiros. A maior parte do seu acervo, que reúne croquis, fotografias, desenhos, calendários e correspondências, é mantida por parentes, principalmente sobrinhos, já que não há mais irmão vivo. Em compensação, a lista de sobrinhos é extensa. “Tenho de fazer as contas com calma. Só na minha casa são oito”, diz a sobrinha mais velha, a aposentada Cyra Maria Andrade von Sperling. Quando ela estudou em Petrópolis, em colégio interno, Alceu Penna era seu tutor. “Ele era muito dedicado aos sobrinhos e sempre levava presentes a todos quando voltava de viagem”, diz. O artista viajava muito e costumava passar seu aniversário (1º de janeiro) em Nova York. Paris também estava entre as preferências de destino.

Para comemorar o centenário de nascimento, parentes de Alceu Penna têm se empenhado na montagem de uma série de homenagens, que vão desde livros e exposições até rótulos de cachaça. Foram criados o site www.alceupenna.com.br e uma página no Facebook. O estilista mineiro Victor Dzenk vai fazer homenagem ao artista no lançamento de sua coleção de Verão 2016, em abril. A coleção O Meu Jardim Secreto vai trazer camisetas com grafismo, saias rodadas e uma linha de roupa de praia. “Vamos fazer uma releitura de estampas criadas por Alceu”, diz Dzenk.

É difícil acreditar, mas o artista da moda mais colorida do país no passado era daltônico. “A irmã Therezinha, com quem morou até a morte, ajudava e escrevia o nome da cor em cada lápis”, diz Natércio Pereira, cunhado e vizinho de Alceu no Flamengo (Rio), durante 13 anos. Ele conta que o artista desenhou também vestidos de noiva, inclusive das irmãs e de algumas sobrinhas. “Da minha mulher mesmo, a Maria Carmen, foi ele quem desenhou”, diz orgulhoso. “Sou suspeito, mas acho que é o vestido de noiva mais bonito que ele fez”, diz.

Leia mais: http://www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2015/03/o-pioneiro-da-moda.html

A Stravaganza de Drummond

Por Mario de Almeida
Jornalista, publicitário e escritor.

Enquanto Fernando Pessoa e Orígenes Lessa fizeram da publicidade ofício cotidiano, escritores como Oswald de Andrade e Décio Pignatari levaram para a poesia a linguagem da propaganda. Consta que no time do pontapé inicial do longo periodo no Brasil, no qual só se fazia texto de propaganda em versos, a camisa 10 era do poeta Casimiro de Abreu que, lá por 1860, fez um belo gol para o Café Fama, enquanto curtia a nostalgia da “infância querida que os anos não trazem mais”.

No início do século XX a Confeitaria Colombo, no centro do Rio, era um verdadeiro balcão de pedidos e entregas de anúncios, onde o Príncipe dos Poetas – Olavo Bilac – faturava o suficiente para passar noites e madrugadas vendo e ouvindo estrelas.

Já escrevi sobre duas personalidades que tiveram seu momento de redatores de propaganda: Jorge Amado e Mário Quintana. Chegou a vez de Drummond, cuja participação exige um “nariz de cera”. Esforçar-me-ei (!) para ser breve.

Nos anos 60 do século passado, respondia pela propaganda e promoções da Rhodia, Livio Rangan, um profissional que enxergava muito longe e inovou o marketing da indústria têxtil, promovendo mega eventos com artistas de teatro, da música, figurinistas como Alceu Penna e cenógrafos como Cyro Del Nero.

A partir de uma idéia oferecida pelo Circo Paulistano, Livio produziu o espetáculo Stravaganza, tendo Raul Cortez e Gal Costa como apresentadores. Para se ter idéia do que era um mega evento, conta Cyro Del Nero, hoje mestre de Cenografia da USP:

Stravaganza foi em 1969. Texto do Drummond. Os números circenses eram vestidos pelo Alceu. A cenografia e produção eram minhas. Alceu Penna desenhou os costumes (e deixou comigo os desenhos que pretendo doar para um Museu da Moda se houver um durante minha vida).

Um dos quadros do Alceu era “O enterro do Circo”. Seis manequins entravam de preto como “as viúvas do Circo” e deveríamos arranjar um coche para cavalos negros, igual a um que serviu para procissões fúnebres no sepultamento de governadores e personalidades paulistas. Achei um em Santa Catarina, comprei-o e ele veio para o Ibirapuera.

A Time americana havia estampado em sua capa o nosso palhaço Piolim e resolvemos contratá-lo. O número do Piolim era – ele e um palhaço que lhe fazia escada – a representação de um casal de pássaros. Piolim era a fêmea. O casal se entendia apenas com assobios (pequena latinha entre os lábios) e Piolim fêmea se recusava aos apelos amorosos do macho. Piolim vestia um chou-chou de ballet. Foi um dos números circenses mais líricos que eu já vi, e terminava em casamento com os dois palhaços saindo de braços dados. O público que estivera em êxtase aplaudia aos gritos. O espetáculo era um luxo.

Lívio e eu, depois, ganharíamos placas de agradecimento do sindicato da classe circense.”

No texto de Drummond havia o poema abaixo, uma referência às “manecas” da Rhodia atuantes no show:

Ully, Ully, Lullaby
Vou contigo para a lua
Luarando vais levando
Uma luz leve de linho
De trigal maduro e lã.
Maylu surge de repente
E todos os véus da Ásia
As arômatas do Egito
As musicálias hindus
Florescem na flor do ar.
Ó Zula, que noite azul
Clareia na tua pele
Um mistério que escurece
Quando tento decifrá-lo?
Já se dilata a pupila
Ante a passagem de Mila
Que se pára ou se desfila
Comove o sono da argila.
E Nice, que vem da neve
E da pelúcia mais suave
Incenso, anjinho de nave
Cantando na Lua Nova?
Que não me falte Beatriz,
Jardim moreno de altura
Para me fazer feliz
No meu reino de aventura!

O recibo por esse trabalho está enquadrado, emoldurado e faz parte das melhores memórias do Cyro Del Nero que conta como foi o acerto financeiro:

O recibo que tenho do Drummond é o pagamento de texto para o show na Fenit. Fomos visitá-lo para propor e discutir preço e o Drummond hesitante fez a clássica pergunta:

– Dois mil está bem para vocês?

Não estava. Pagaram vinte mil.

Inté.

Croquis de Alceu Penna “As viúvas do circo” para o espetáculo-desfile promovido pela Rhodia (1969), Stravaganza

Fonte: http://coletiva.net/colunas/2006/02/a-stravaganza-de-drummond/