A civilidade em traços e letras: preceitos de civilidade na coluna Garotas de O Cruzeiro, nos anos dourados (1950-1964)

Autora: Daniela Queiroz Campos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de História, do Centro de
Ciências da Educação CCE/FAED, como requisito para a obtenção de título de Bacharel em História.
Orientadora: Dra. Maria Teresa Santos Cunha

RESUMO
Pretende-se, neste trabalho de conclusão de curso, analisar as normas de civilidade contidas na coluna Garotas (1938–1964) da revista “O Cruzeiro” (1928- 1975) durante os chamados anos dourados (1950-1964). A coluna, que circulou na famosa revista ilustrada semanal por 26 anos, considerada a “expressão da vida moderna no Brasil”, apresentava semanalmente, em duas páginas coloridas, grupos de belas mocinhas, vestidas segundo as últimas tendências da moda, conversando sobre os mais diversos assuntos. Desenhadas por Alceu Penna e com textos de diversos autores, como A. Ladino e Maria Luiza, a coluna ditou modas, costumes e preceitos de civilidade, criou um imaginário acerca do feminino que acabou por influenciar no comportamento de gerações de homens e mulheres. As Garotas “endiabradas e irrequietas” foram ao jóquei club e ao cinema, tomaram banho de sol e de mar, viajaram, namoraram, leram, enviaram correspondências. O presente trabalho está ancorado no aporte da História Cultural e da Leitura e, através desta bibliografia e daleitura e posterior análise das colunas Garotas e de Manuais de civilidade, quecircularam no Brasil nas décadas de 1950 e 1960, busca-se perceber as normas de civilidade e etiqueta reverberadas nos historietas e nos desenhos da coluna. Enfim, busca-se ver nos hábitos, nas imagens, nas condutas, e nas posturas propagados pela coluna Garotas uma espécie de ressonância do papel social esperado pelas jovens meninas/mulheres do Brasil da época.
PALAVRAS-CHAVE: Civilidade, coluna Garotas, manuais, impresso, práticas de leitura.

ABSTRACT
With this paper is proposed an analysis of civility rules CONTIDAS in “Garotas”* (1938 – 1964) of “O Cruzeiro” Magazine (1928 – 1975) during the golden years (1950 – 1964). “Garotas” was part of the famous illustrated magazine for 26
(twenty-six) years and represented an “expression of modern life in Brazil”, presented weekly, in two colored pages, groups of beautiful young ladies, dressed according to the last fashion trends and talking about the most diverse subjects. Drawn by Alceu Penna and with texts written by many author as A. Ladino and Maria Luiza, “Garotas” was a trend, manners and civility rules messenger, besides, created a imaginary around the feminine life that ends to reflect in the behavior of generations of men and women. The girls went to the jóquei club, to the movies, sun bathing, dated, traveled, read and sent mails. This paper to present is supported by Culture and Readability History and thru those researches and reading, and later analysis of many manuals of manners and magazines that contained the pages of “Garotas”, that were published and read in Brazil in the 1950s and 1960s (nineteen-fifties and nineteen-sixties), is wished a way to realize
how civility and manners were reverberated in the histories and illustrations of the magazine. At last, one searches to see in the habits, images, conducts and in the posture propagated by “Garotas” in some kind of resonance of the social paper expected for the Brazilian young girls and women during that time.
KEY WORDS: Civility, manners, “Garotas”, manuals, printed, reading practice.

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Uma das Garotas de Alceu Penna

Alceu Penna

heloisabuarquedehollanda.com.br

É inevitável, para mim, voltar no tempo quando penso em Alceu Penna. Me lembro imediatamente de minha ansiedade, ainda adolescente, esperando O Cruzeiro aparecer nas bancas e eu, correndo as páginas da revista, para encontrar as “Garotas” da semana.  Não só para mim mas para minha geração de meninas que iam ao cinema Rian à tarde e depois iam em grupo tomar sunday de Morango com waffles nas Americanas, Alceu Penna era um modelo de comportamento. Sentíamos suas páginas como modernas, atuais, descoladas. Eram frases, gestos, formas de olhar e seduzir, as

Roupas, chapéus, maiôs, fantasias. Ah! As fantasias de carnaval, fielmente copiadas pelas costureiras do bairro…

 

Dei meu exemplo, porque acho que Alceu Penna marcou, durante os anos 50/60, no Rio de Janeiro e demais capitais do país onde chegava seu traço e seu talento, um estilo de vida contemporâneo, prazeroso, anti-europeu, brasileiríssimo.

Uma influência que exercia não apenas no comportamento e no ethos das camadas jovens femininas, mas que também marcou o conjunto de sua extensa e polivalente atividade criativa. Como estilista, pode-se dizer, sem medo de errar, que Alceu foi o pioneiro na criação de moda no país. Abandonando os traços importados na Casa Canadá, central da moda naquele tempo,

Alceu parte, em vôo livre, para descobrir o que seria o estilo brasileiro de viver e se vestir. E surge aquela sequência fascinante de modelos de noite e de passeio, que interpretam como ninguém as fantasias de sedução e a sonsa elegância da mulher brasileira. E surgem ainda as fantasias de carnaval, puro desejo que transformação em personagens misteriosas, picantes, viajantes, realizando, au grand complet, a função carnavalesca de liberação dos papéis  cotidianos durante os quatro dias de folia. E surgem as variáveis radicalizadas desses caminhos: os luxuosos figurinos de do nosso melhor teatro de revista e as estonteantes  pinups de seu desenho publicitário.

Suspeito, com certa convicção, que nenhum artista brasileiro estudou e atualizou tanto e tão profundamente as possíveis respostas à enigmática pergunta de mestre Freud: “o que querem as mulheres?”