Desfile do Curso de Moda homenageia as Garotas do Alceu

Criações de 57 alunos foram apresentadas nas noites de segunda e quarta-feira.

Durante 26 anos, entre 1930 e 1960 o desenho de moda brasileiro foi dominado por Alceu Penna, ilustrador que deu vida às Garotas do Alceu. Toda semana, as personagens do ilustrador chegavam às bancas na revista O Cruzeiro, ditando as tendências de moda da época. Eram como as atuais it-girls.

Em 2015 é comemorado o centenário de Alceu Penna, e para marcar a data, três turmas da disciplina de Produção de Moda, do curso de Moda da Universidade Feevale criaram e apresentaram 57 looks inspirados nas Garotas do Alceu. As criações foram apresentadas nas noites de segunda e quarta-feira, 22 e 24 de junho, em desfile realizado no Câmpus II da Feevale.

Na noite de ontem o desfile contou com a presença da sobrinha de Alceu Penna, Luiza Penna de Andrade. Segundo ela, foi uma surpresa saber que as pessoas ainda veem o trabalho do ilustrador como referência. “Fiquei muito feliz e muito surpresa com esse desfile. No Rio Grande do Sul é a primeira vez que é feito um evento em homenagem à ele. É muito gratificante ver pessoas tão novas, que estão começando agora na moda, se basearem na obra do Alceu. Ele com certeza gostaria muito de presenciar esse tipo de iniciativa”, disse Luiza.

 

Confira os looks:

https://www.feevale.br/acontece/noticias/desfile-do-curso-de-moda-homenageia-as-garotas-do-alceu

 

Exposição “Alceu Penna é 100!” destaca mineiro Alceu Penna, guru da moda no Brasil dos anos 30 a 60

Reunião de acervo celebra centenário de nascimento do artista, com ênfase nas criações de pin-ups brasileiríssimas

Release da exposição “Alceu Penna é 100!”
 
Artista gráfico, figurinista, designer e estilista, o mineiro Alceu Penna (1915-1980) completaria 100 anos em janeiro. Nascido em Curvelo, o artista deixou um precioso legado: foi pioneiro dos quadrinhos no país na década de 1930; ditou moda dos anos 1930 a 1960 – sobretudo por meio da seção “As garotas” publicada na revista O Cruzeiro; e ensinou a brasileira a adotar novos padrões de feminilidade. Penna renovou o visual de Carmen Miranda, já estrela internacional: levam a assinatura dele turbantes, camisas listradas e o chapéu panamá que a brazilian bombshell eternizou.
A exposição ‘Alceu Penna é 100’, em cartaz no Centro de Referência de Moda de Belo Horizonte, traz um pouco da imensa obra do curvelano, destacando sobretudo suas brasileiríssimas pin-ups. Organizada pela família com o apoio do Centro Universitário UNA e viabilizada por crowdfunding, a mostra tem tudo para encantar as novas gerações.Foram programadas também atividades paralelas relacionadas à obra de Penna. Nesta quinta-feira, 30, às 15h, mesa-redonda vai abordar seu trabalho como figurinista e as formas como ele representou graficamente o casamento e a juventude. A historiadora Maria Claudia Bonadio e Gabriela Ordones Penna, mestre em moda, vão conversar com o público.

Cursos estão programados. Informações pelo site do projeto.


ALCEU PENNA É 100
Centro de Referência da Moda, Rua da Bahia, 1.149, Centro. De terça a sexta-feira, das 9h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 14h. Até 16 de agosto. Informações: (31) 3277-4384.

Leia mais:  http://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2015/07/30/noticia-e-mais,170085/exposicao-mineiro-alceu-penna-guru-da-moda-no-brasil-dos-anos-30-a-60.shtml
 

Centenários 2015: Alceu Penna traçou e coloriu uma ode à beleza

Por Raphael Vidigal

Escritor, letrista e repórter; publicado em 14/05/2015

“Sol, s.m.
Quem tira a roupa da manhã e acende o mar
Quem assanha as formigas e os touros
Diz-se que:
se a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona
Estar sol: o que a invenção de um verso contém”    Manoel de Barros

 

Oliviero Toscani, fotógrafo italiano, afirma que “Caravaggio e Michelangelo, sim, eram publicitários”, ao contrário dele, conhecido por campanhas polêmicas da marca Benetton. E justifica: “Criaram imagens que reproduziam o ideal de beleza no qual a Igreja Católica acreditava”. Para alguns artistas, o adjetivo “moda” é insuficiente. Alceu Penna, mineiro de Curvelo, que tem o centenário de nascimento comemorado neste ano de 2015, é um deles. Célebre pela criação de “As Garotas” na revista “O Cruzeiro”, de 1938 até 1964, Alceu transitou por categorias de entretenimento mantendo o ofício afiado na ponta do lápis. Assinou fantasias de carnaval e peças para desfiles da Rhodia. Se como estilista Penna é quase um solitário no país, ao lado de nomes como Clodovil, Dener, Zuzu Angel e Ronaldo Fraga, é possível constatar no desenho uma larga tradição nacional, especialmente na caricatura, isso sem mencionar mestres da pintura como Tarsila do Amaral e Portinari

Essa, portanto, é a principal singularidade do desenho de Alceu Penna, pois, ao mesmo tempo em que serve a interesses do mundo publicitário, do entretenimento, da moda, oferece por esse caminho uma leitura sensual, rebelde, libertadora. Nessa dicotomia pouco usual consiste o segredo da longevidade do artista. Em J. Carlos e Ziraldo, para exemplificar por meio da comparação, há o deboche. Millôr, Jaguar, Henfil e outros, tendem para a arte plástica que segue a um modelo distante das formas gregas e logo harmônicas do conceito de beleza. Alceu Penna coloriu e traçou as curvas das mulheres brasileiras naquele fragmento da tentação: no que de proibido tem de mais deleitoso. A obra de Alceu é, por fim, uma ode à beleza. Que o poeta Baudelaire assim definiu: “Ritmo, perfume, luar, ó minha rainha! – Menos feio o universo e leves os minutos?”.

Fonte: http://www.esquinamusical.com.br/centenarios-2015-alceu-penna-tracou-e-coloriu-uma-ode-a-beleza/

 

Curvelo comemora 100 anos de Alceu Penna

 

De 13 de fevereiro a 12 de abril, o Centro Cultural de Curvelo, na Praça Central do Brasil (Estação) exibe as memórias de um dos mais queridos e ilustres curvelanos: Alceu Penna.

Uma mostra traz boa parte do acervo do estilista, ilustrador e grande artista que foi responsável por capas memoráveis de várias revistas e periódicos, como a revista O Cruzeiro. Alceu de Paula Penna faria 100 anos em janeiro deste ano ( os registros da família mostram 1º de janeiro como o dia do seu nascimento, segundo o historiador e assessor especial da Prefeitura, Newton Vieira, embora boa parte das imprensa comemore no dia 10). Em recente reportagem, o jornal Estado de Minas publicou quatro páginas em homenagem ao artista curvelano.

“Uma feliz reunião de talentos. Para comemorar o centenário de ALCEU PENNA, Ivan Penna organiza e torna real a exposição ALCEU, 100 ANOS. Tio e sobrinho, dois craques em captar o que há de mais bonito nas “Garotas”, que são a essência da beleza, da malícia e do charme da mulher brasileira – e também um resgate de um Brasil onde quase tudo era bem mais legal. O que era privilégio da família Paula Penna e da geração 40/50/60 está à disposição de um grande público: a arte de um curvelano que, do sertão mineiro se tornou universal. E, imortal”, diz a Secretária de Cultura, Marivete Alves Barbosa, entusiasta da exposição.

Serão expostos: 60 exemplares da revista O Cruzeiro, que fazem parte do Acervo Municipal de Curvelo Newton Correa; 9 peças de vestuário desenhadas por Alceu Penna, pertencentes a particulares; pinturas e desenhos originais de propriedade da família Paula Penna; peças executadas por Alceu para o Bazar Beneficente dos Diários Associados; um lenço de seda comemorativo dos 400 anos do Rio, de acervo particular; copias de originais de desenhos completos e inacabados do acervo particular de Alceu Penna; calendários Santista originais; fotografias de Alceu Penna.

O pioneiro da moda

Considerado o primeiro estilista brasileiro, o mineiro Alceu Penna ditou os modelitos das brasileiras por mais de 30 anos. As “Garotas do Alceu”, que estampavam páginas de grandes revistas, são relembradas agora, em seu centenário.

Por Geórgea Choucair

O estilista Alceu Penna saiu de Curvelo e ganhou fama no Rio: desenhos que inspiravam as mulheres (foto: Arquivo Estado de Minas)Na linguagem atual, elas seriam chamadas de it girls, por ditarem a moda e servirem de inspiração para milhares de mulheres. Entre 1938 e 1964, eram chamadas de “Garotas do Alceu” e se tornaram razão de alvoroço do público feminino. Do mesmo jeito que as mulheres de hoje fazem questão de copiar as roupas, acessórios, penteados, comportamento e gestos das it girls, no passado, essa modelos ditavam moda. Na realidade, tratava-se de desenhos que saíam da cabeça fervilhante e mãos ágeis de Alceu Penna (1915-1980), um mineiro que deixou Curvelo para fazer fama no Rio de Janeiro, então capital federal, e até no exterior. Seus desenhos de belas mulheres com modelos coloridos e de vanguarda eram publicados semanalmente nas páginas da revista O Cruzeiro, dos Diários Associados.

Em uma época em que não havia lojas de roupas prontas, era Alceu quem ditava os modelitos da mulherada. “Não existia televisão. As mulheres acompanhavam a moda em cinema e revista”, diz Gabriela Ordones Penna, estudiosa da obra do tio-avô há 10 anos. As outras revistas costumavam usar fotos de agências internacionais para divulgar a moda da época. “Era difícil a mulher brasileira se identificar”, diz Gabriela. “Os desenhos de Alceu vieram para privilegiar a cultura e costumes brasileiros, com olhar no exterior.”

Alceu Penna começou a desenhar ainda criança, inclusive com giz de alfaiate, na pacata Curvelo. Mas a sua história ganha destaque mesmo ao se mudar para o Rio de Janeiro, aos 17 anos, onde foi estudar na Escola Nacional de Belas Artes e fez carreira em produções gráficas diversas. Desenhou para O Jornal, O Globo Juvenil, A Cigarra e foi um dos pioneiros na produção de quadrinhos. Mas foi com a coluna “Garotas do Alceu” que se consagrou no Brasil inteiro. Elas eram saudadas na imprensa da época como se fossem modelos reais, garotas que tinham “Yumpf”, ou seja, “it”.

Gabriela conta que as “Garotas do Alceu” foram encomendadas por Accioly Netto, editor-chefe d’O Cruzeiro, que pediu ao desenhista para criar as Gibson Girls (mulheres provocantes pintadas pelo artista norte-americano Charles Dana Gibson em 1887) brasileiras. “Assim nasceram as garotas”, diz. Elas tinham olhos maiores, boca mais carnuda e feições trabalhadas. “Alceu reinventou as pin-ups brasileiras”, diz o estilista mineiro Ronaldo Fraga.

Maria Carmen, irmã de Alceu Penna: vestido de noiva assinado pelo irmão famoso (foto: Álbum de família)

As modelos criadas por ele traziam um toque sensual e, ao mesmo tempo, uma dose de recato, pois eram publicadas em revista de circulação nacional voltada para a família. Mas as belas jovens apareciam com trajes mais ousados nos calendários distribuídos pela empresa Moinho Santista. A partir daí, Alceu Penna se transformou também em estilista e assinou figurinos de famosas montagens do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Nessa época, ficou amigo de Carmem Miranda, tornando-se uma espécie de consultor informal da estrela. Na década de 1960, criou modelos para os famosos desfiles da Companhia Rhodia, que lançavam tendências.

Alegre em família, munido de ironia fina, Penna gostava de contar piadas. Tinha 11 irmãos, nunca se casou e não deixou herdeiros. A maior parte do seu acervo, que reúne croquis, fotografias, desenhos, calendários e correspondências, é mantida por parentes, principalmente sobrinhos, já que não há mais irmão vivo. Em compensação, a lista de sobrinhos é extensa. “Tenho de fazer as contas com calma. Só na minha casa são oito”, diz a sobrinha mais velha, a aposentada Cyra Maria Andrade von Sperling. Quando ela estudou em Petrópolis, em colégio interno, Alceu Penna era seu tutor. “Ele era muito dedicado aos sobrinhos e sempre levava presentes a todos quando voltava de viagem”, diz. O artista viajava muito e costumava passar seu aniversário (1º de janeiro) em Nova York. Paris também estava entre as preferências de destino.

Para comemorar o centenário de nascimento, parentes de Alceu Penna têm se empenhado na montagem de uma série de homenagens, que vão desde livros e exposições até rótulos de cachaça. Foram criados o site www.alceupenna.com.br e uma página no Facebook. O estilista mineiro Victor Dzenk vai fazer homenagem ao artista no lançamento de sua coleção de Verão 2016, em abril. A coleção O Meu Jardim Secreto vai trazer camisetas com grafismo, saias rodadas e uma linha de roupa de praia. “Vamos fazer uma releitura de estampas criadas por Alceu”, diz Dzenk.

É difícil acreditar, mas o artista da moda mais colorida do país no passado era daltônico. “A irmã Therezinha, com quem morou até a morte, ajudava e escrevia o nome da cor em cada lápis”, diz Natércio Pereira, cunhado e vizinho de Alceu no Flamengo (Rio), durante 13 anos. Ele conta que o artista desenhou também vestidos de noiva, inclusive das irmãs e de algumas sobrinhas. “Da minha mulher mesmo, a Maria Carmen, foi ele quem desenhou”, diz orgulhoso. “Sou suspeito, mas acho que é o vestido de noiva mais bonito que ele fez”, diz.

Leia mais: http://www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2015/03/o-pioneiro-da-moda.html

Esboços sobre a trajetória de Alceu Penna nos Diários Associados: Moda, Corpo e Identidades

Sketches about the Alceu Penna’s tragetory in Diários Associados: fashion, body and identities.
JAQUELINE MORAES DE ALMEIDA¹

Alceu de Paula Penna nasceu em 1915, na cidade de Curvelo, MinasGerais. Foi um importante colaborador nas revistas dos Diários Associados. No semanário O Cruzeiro, Alceu ganhou destaque pela coluna de humor “As Garotas”, que circulou de forma ininterrupta entre os anos de 1938 e 1964. Já no mensário A Cigarra – revista lançada em 1914 por Gelásio Pimenta e adquirida por Assis Chateaubriand na primeira metade da década de 1930 –Pennafoi reconhecido por seu trabalho junto ao suplemento “A Cigarra Feminina”, dirigido pela jornalista Helena Ferraz de Abreu. No segmento, foi responsável pelas ilustrações das seções “Elegância e beleza”, assinada por Elza Marzullo; “Mocinha”, de Tia Marta;
“O marido de madame”, HQ escrita por Álvaro Armando; entre outras. Diante dos programas relacionados à preservação de uma identidade feminina, divulgados pela imprensa, refletiremos sobre a importância dos trabalhos desenvolvidos pelo artista.

Palavras-chave
Cultura Visual. Imprensa. Gênero. Alceu Penna. Moda.
Abstract
Alceu de Paula Penna was born in 1915 at Curvelo, Minas Gerais. He was an important contributor in Diários Associados magazines. In a weekly O Cruzeiro, Alceu gained prominence for his work “As Garotas”, a column of humor that circulated continuously between 1938 and 1964. In a monthly publication A Cigarra, magazine launched in 1914 by Gelásio Pimenta and get by Assis Chateaubriand in the first half of 1930’s,he was acknowledged by his works with the supplement “A Cigarra Feminina”, directed by the journalist Helena Ferraz de Abreu. In that segment, he was responsible for the illustrations of sections “Elegância e beleza”, signed by Elza Marzullo; “Mocinha”, by Tia Marta; “O marido de madame”, comics written by Álvaro Armando; etc. Before programs related to preservation of a female identity, published by the press, we will reflect about na importance of works developed by the artist.

Kewords
Visual Culture. Press. Gender. Alceu Penna. Fashion.
___________________________________
¹ Mestranda do Departamento de História da UNICAMP
E-mail: [email protected]

http://revistas.utfpr.edu.br/ap/index.php/iconica/article/view/24

Melindrosas e Garotas: representações de feminilidades nos traços de J. Carlos (1922-1930) e Alceu Penna (1938-1946)

Citação: MANNALA, Thaís.

Melindrosas e garotas: representações de feminilidades nos traços de J. Carlos (1922-1930) e Alceu Penna (1938-1946). 2015. 155 f.

Dissertação (Mestrado em Tecnologia)

– Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2015.

Resumo:

No presente trabalho serão analisadas representações de feminilidades em dois periódicos distintos: as Melindrosas na revista Para Todos… e a coluna Garotas na revista O Cruzeiro. Os recortes compreendem os anos de 1922 a 1930 para as Melindrosas e de 1938 a 1946 para as Garotas, privilegiando uma sequência entre décadas subsequentes, de modo a entender como as representações de feminilidades se modificaram ou se mantiveram. Interessa também investigar de que maneira o humor e a visualidade contribuíram para normatizar papéis e relações entre gênero, em conjunto com políticas públicas. As revistas visavam trazer a identificação com discursos hierarquizantes, atuando como pedagogia de gênero. Contudo, percebe-se que o humor buscou, nas fissuras das representações, a dupla moral, na qual as mulheres negociavam espaços de atuação e liberdade. Tanto Melindrosas quanto Garotas possuíam táticas de convencimento e de sedução que as levaram a realizar desejos e a conquistar alguns de seus objetivos. Elas questionaram e enfatizaram as contradições e tensões das respectivas décadas. Por vezes, indicavam pretextos para pensar nas mudanças sociais, de comportamentos e no modo como os homens se colocavam neste quadro.

Abstract:

In the present work femininity representations will be analyzed in two separate journals: the Flappers in the magazine Para Todos… and the Garotas column in the magazine O Cruzeiro. The cuts include the period from 1922 to 1930 for the Flappers and 1938-1946 for Garotas, favoring to a sequence of subsequent decades, in order to understand how representations of femininity have changed or remained. We also want to investigate how the mood and visuality contributed to standardize roles and relationships between gender, together with public policy. Magazines aimed to bring identification with hierarchized speeches, acting as gender pedagogy. However, we notice that humor sought in the fissures of the representations, the double standard, in which women were negotiated spaces of action and freedom. Both the Flappers and the Garotas used tactics to convince and seduction that led them to grant wishes and achieve some of their goals. They questioned and emphasized the contradictions and tensions of their respective decades. Sometimes indicated pretexts to think about the social changes of behavior and how men were placed in this board.
Leia mais:  

http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/1187

Livro revive as apresentações grandiosas da Rhodia na Fenit, nos anos 60

Estilistas, modelos e jornalistas relembram os desfiles-shows da companhia

oglobo.globo.com

POR GILBERTO JÚNIOR

RIO — Enquanto a Europa borbulhava nos anos 60 com a invenção da minissaia e o futurismo de Pierre Cardin, Paco Rabanne e André Courrèges, a moda brasileira começava a ganhar uma cara só sua. Dener Pamplona de Abreu se firmava como um dos estilistas mais festejados da década. Clodovil Hernandes e Guilherme Guimarães também davam o que falar. Mas a cereja do bolo eram os desfiles da Rhodia na Fenit (Feira Nacional da Indústria Têxtil), em São Paulo. Pelas mãos do publicitário italiano Livio Rangan, a companhia de origem francesa fez história, incentivando a indústria nacional com seus shows megalomaníacos, com forte influência de nossa cultura.

— A ideia era popularizar os fios sintéticos que a empresa produzia. As roupas eram feitas pelos costureiros da época, como o próprio Dener — conta Maria Claudia Bonadio, autora do livro “Moda e publicidade no Brasil nos anos 1960”, lançado recentemente, que tem como alvo os desfiles e campanhas da Rhodia. — Na publicação, falo bastante do show Stravaganza, de 1969. O espetáculo teve inspiração circense e levou para o palco leão, elefante e trapezistas. Gal Costa foi a estrela (não faltava música nas apresentações).

Indicado por Dener, o gaúcho Guilherme Guimarães, que fez fama no Rio, diz que tinha total liberdade. Ele podia fazer o que quisesse, desde que usasse as fibras sintéticas da empresa.

— Os sintéticos foram vistos com maus olhos. Nossas clientes de alta-costura só faziam vestidos com seda puríssima, que amarrotava na mala de viagem. A vantagem do sintético era justamente não amassar — comenta Guilherme, deixando claro que Clodovil não criava para a Rhodia. — Dener não deixava — diverte-se. — Dener era o meu melhor amigo, um encanto. Ele, inclusive, ameaçou não participar de um dos desfiles da companhia caso o Livio Rangan não me colocasse no time de costureiros. Rangan tinha uma visão incrível e um extremo bom gosto.

Natural de Trieste, Rangan, morto em 1984, foi uma peça importantíssima na engrenagem fashion nacional. Com as publicidades e os espetáculos na Fenit, ele ajudou a criar uma identidade para a moda brasileira, ao mesmo tempo que difundia os fios da multinacional.

— Os desfiles da Rhodia eram tudo o que tínhamos na década de 1960. Eram muito bem feitos — diz a consultora de moda Hiluz Del Priore.

As modelos eram as estrelas do espetáculo

Nos shows da Rhodia, tal como em qualquer outro desfile-espetáculo, as modelos tinham lugar de destaque. Exclusivas da companhia, elas viajavam à beça, fotografavam intensamente e faziam as comentadas apresentações na Fenit — o momento máximo. Entre todas as manequins, Mila Moreira, hoje atriz, era disparada a mais badalada.

— A Rhodia foi um marco, a TV Globo dos anos 1960. A gente ficava conhecida no Brasil inteiro. Não importava a cidade, sempre tinha alguém nos esperando — relembra Mila, que fez seu primeiro trabalho para a companhia em 1963, aos 16 anos. — Quando comecei, modelo era sinônimo de puta. As mães proibiam as filhas de andarem comigo.

Mila ficou no posto até 1974 e diz que fazia sucesso por ser “normal”, mais próxima da mulher brasileira comum

 

 

— Eu era a mais cheinha e tinha bumbum. Era a mais moleca e desengonçada. O público adorava. Mas minha mãe dizia que eu era a pior do grupo. Por um lado, foi bom. Ela manteve meus pés no chão. Nunca fui dada a estrelismo. Mas eu não tinha confiança alguma.

Guilherme Guimarães não esconde: Mila não era somente a preferida do Brasil. Ela também era a sua favorita.

— Nos encontramos muito no aeroporto, na ponte aérea Rio-São Paulo. A gente gosta de reviver aqueles tempos — entrega Guilherme.

Em 1968, a carioca Cristina Caldas, radicada em Nova York, entrou para o time de manequins da empresa, que buscava novos rostos. O cenário estava mudado.

— A profissão já tinha um certo glamour — pontua Cristina. — O Livio Rangan era muito rígido. Ele regulava a comida para a gente não engordar. Sem falar que ficávamos confinadas no hotel. Éramos jovens e ele era responsável por todas nós.

Mila confirma o protecionismo de Rangan:

— Ele pegava no pé. Não deixava a gente sair. Lembro que uma vez pulamos a janela para curtir. Atualmente, todo mundo faz o que quer. O italiano era um gênio — elogia a atriz, que teve a oportunidade de rodar o mundo como manequim da casa. — Estive no Japão, Itália, Tailândia, Portugal, Líbano…

Também em 1968, Suzete Aché, jornalista do ELA, fez sua estreia nas publicidades da Rhodia. Na sessão de fotos, ela vestiu a moda teen da época desenhada por Alceu Penna, um dos colaboradores mais conhecidos da empresa.

— Era divertido. Um dia a banda “Os Mutantes” veio nos visitar durante um ensaio. Foi a maior emoção. Também fiz desfiles na Fenit e pelo país. Rangan era o mentor de tudo. Uma pessoa cativante e grande conquistador. Ele foi namorado da Ully Duwe, a mais bonita das modelos da Rhodia — recorda Suzete.

Ully, aliás, passou por maus bocados no show Stravaganza, quando foi atacada por um leão. Ela narrou o episódio no livro “História da moda no Brasil”, de João Braga e Luís André do Prado: “De repente, ele abriu um bocão em que cabia meu bumbum inteiro! Mas não foi nada; só deu um beliscãozinho!”.

Segundo Cristina, as roupas desfiladas na Fenit e fotografadas nos ensaios eram confortáveis e desejáveis. E poderiam ser usadas agora, de tão modernas que eram.

— Mas a empresa vendia os fios, não a moda — esclarece Maria Claudia Bonadio.

Livio Rangan deixou a Rhodia em 1970, no mesmo ano em que a companhia fez seu último desfile-show na feira.

— Foi um período impactante para a moda. A Rhodia vendia o Brasil — resume o consultor de moda Lula Rodrigues.

Leia mais: https://oglobo.globo.com/ela/moda/livro-revive-as-apresentacoes-grandiosas-da-rhodia-na-fenit-nos-anos-60-16948509#ixzz4jjbkBh8K
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O pai da moda brasileira

Por Laura Valente
Publicação: 01/02/2015 , Caderno Masculino&Feminino, Jornal Estado de Minas.
No centenário de Alceu Penna, resgate de memórias e a criação de coleção inspirada nas Garotas relembram o artista que revolucionou o guarda‐ roupa feminino com uma estética 100% nacional

Já se vão 100 anos e podem passar mais 100 que a influência de Alceu Penna na construção de uma moda autenticamente brasileira jamais será esquecida. Natural de Curvelo, na região Central de Minas Gerais, ele fez história ao se mudar para o Rio de Janeiro, cidade em que desenvolveu uma carreira rica em produções gráficas diversas, especialmente marcada pelo sucesso estrondoso dos desenhos criados para a coluna Garotas do Alceu, Publicada na revista O Cruzeiro semanalmente, de 1938 a 1964,  as páginas recheadas de novidades em moda e comportamento, dicas de penteado e maquiagem e ilustrações para o guarda‐roupa da mulher com modelos de praia, dia a dia, festas formais e temáticas como o carnaval eram esperadas com ansiedade não só pelas cariocas, mas por mocinhas de todo o país.

Para comemorar o centenário de nascimento, parentes do artista têm se empenhado na montagem de uma série de homenagens. No universo da moda, uma coleção‐cápsula criada pelo estilista Victor Dzenk com inspiração na obra de Alceu promete virar hit do próximo verão, temporada 2015/16.  “As Garotas representam um clássico da moda nacional, de uma riqueza incrível, com potencial de influência que permanece até os dias atuais”, afirma Dzenk. A ideia de criar a coleção surgiu de um contato entre o estilista e uma das sobrinhas de Alceu, Laís Penna, filha de um dos irmãos dele, também já falecido, Adalto de Paula Penna. “Convidei o Dzenk para curtir a página comemorativa ao centenário do meu tio no Facebook e dali começamos a trocar figurinhas. Pensei nele porque também é um mineiro com alma carioca, e lida muito bem com estampas. Além de homenagear o Alceu, essa coleção vai resgatar e até mesmo apresentar a história dele para quem não o conhece, já que o Victor é um profissional bastante influente”, cita Laís.

Releitura do mestre

A coleção‐cápsula merecerá destaque especial durante o lançamento de primavera‐verão 2015’16 do estilista, nomeada Jardim Secreto. “A estamparia é o DNA da minha marca, então irei explorar muito as imagens das Garotas e dos croquis, mas não de forma literal e, sim, em grafismos, uma releitura de estampas criadas por ele como borboletas e animal printings. Ele gostava de retratar as Garotas acompanhadas de gatos de estimação, e este também estará presente”, adianta Dzenk.
A modelagem das peças promete passear pelos shapes dos anos 1940 a 1960, e explorar tecidos usados no período, criados a partir de fibras naturais: algodão, gabardine, linho, shantung, tricoline, entre outros.
Haverá, ainda, t‐shirts. “Pretendo abraçar imagens dos croquis na íntegra e em recortes, algumas envelopando a camiseta inteira, em 360 graus, cobrindo toda a superfície”, completa.
Ainda segundo o estilista, é um privilégio discorrer sobre um artista tão completo e importante para a história da moda brasileira. “Na abertura da biografia do Alceu (escrita por Gonçalves Júnior) há uma citação dizendo que ele foi o responsável pela descrição do estilo da carioca antes de Vinícius de Morais e Tom Jobim apresentarem Garota de Ipanema ao mundo, que pode até mesmo ter sido inspirada nas Garotas. Isso é muito forte, representativo. O Alceu ilustrou o estilo da mulher brasileira de forma muito precisa, uma vanguarda para a época com reflexos não só na moda, mas no comportamento, na atitude, no lifestyle mesmo”. É como definiu o texto da revista O Cruzeiro na época do lançamento da coluna: “As Garotas são a expressão da vida moderna. Endiabradas e inquietas, elas serão apresentadas todas as semanas por Alceu Penna”.

Carioca x mineira

Na Belo Horizonte dos anos 1940, a máquina de costura da menina Júnia Melo trabalhava semanalmente para reproduzir os modelos exibidos pelas Garotas do Alceu. “Comecei a costurar para mim com 13 anos e, dali, também para as minhas colegas do Colégio Santa Maria. Comprava a revista O Cruzeiro só para ver as Garotas e tirar os modelos”, lembra ela, que trabalhou a vida inteira com modelagem, leciona e pretende lançar um livro técnico ainda este ano.

“Ele tinha um desenho maravilhoso, e não fazia só a ilustração, mas falava sobre o comportamento também. Havia modelos de festas como carnaval, junina, debutantes, roupas de praia e de toda hora. O Alceu acompanhava o que as mocinhas estavam fazendo, a cor de batom, tipo de maquiagem e penteado, onde estavam indo, e reproduzia tudo com extremo bom gosto.”

Em uma época em que não havia lojas de roupa pronta, era o Alceu quem ditava moda. “Fazia modelos em laise, cambraia de linho, linho, seda, veludo, muitas vezes enfeitados com tira bordada (ou bordado inglês). A diferença é que aqui em Belo Horizonte as mães nos proibiam de sair de vestido de alcinha, ao contrário do que ocorria com minhas primas cariocas, que também copiavam os modelos do Alceu. Aliás, todas as mocinhas jovens e de família do país copiavam os modelos dele.” Junia cita ainda a importância dos desenhos do artista para o surgimento de uma moda com características brasileiras. “Não tínhamos muito figurino nacional, por isso tirávamos modelos de roupas de filmes com figurino francês ou americano. Aqui, ele foi pioneiro em um desenho bom, todo mundo que costurava prestava atenção naquilo que ele propunha de moda, influenciou muito.”

Para a especialista em modelagem, naquela época e mesmo nos dias de hoje Alceu foi mais que um estilista. “Ele foi um prestador de serviço nessa área, e sempre dava algum tipo de orientação.” Entre os modelos inesquecíveis, ela cita um vestido de linho JK, estreado com sucesso na hora dançante do Automóvel Clube. “Era vermelho e tinha a parte de cima toda bordada de pastilha branca, com linha grossa, em forma de bolinhas, lindo, lindo. Até hoje faço esse modelo nas minhas aulas. O Alceu foi minha maior fonte de referência.”

Origens

Laís Penna conta que o tio começou a desenhar ainda criança, muitas vezes nas calçadas da cidade natal, Curvelo, com giz de alfaiate. “Dizem que um casal de pintores ficou impressionado com o talento daquele jovem e começou a ensinar algumas técnicas para ele, além de o incentivá‐lo para que fosse para o Rio de Janeiro, ao contrário do desejo do meu avô, para quem Alceu deveria seguir outra carreira ”. Na Cidade Maravilhosa, o menino chegou a estudar arquitetura, mas após a morte do pai decidiu‐se pela formação na Escola Nacional de Belas‐Artes (ENBA). “Dali, ele começou a batalhar a carreira de cartunista e ilustrador em diversos veículos e na publicidade, inclusive criando tipografias. Foi um dos pioneiros também na produção de quadrinhos (HQs), atuou em artes gráficas de modo geral, mas a fama mesmo veio com ”As Garotas”, descreve a sobrinha.  Para ela, as moças produzidas por Alceu surgiram na mesma época em que as ”pin‐ups” começaram a fazer sucesso no cenário mundial, e representaram uma inovação.

“Ele viajava muito, atuou como correspondente de moda na revista O Cruzeiro, ia para Paris, para os EUA, e adequava os costumes de moda de lá para a realidade brasileira.” Apesar de partir do interior de Minas ainda muito jovem, o artista deixou boas lembranças por lá. “Há muitas histórias das pessoas que viveram na época. Ele visitava a cidade anualmente, fazia desenhos para amigas, para blocos de carnaval, e não cobrava nada. Muitas vezes, mandava para nós malas repletas de desenhos e tecidos para a minha mãe costurar.”
A sobrinha também descreve a personalidade do tio famoso. “Ele era caseiro, e bem alegre em família, tinha uma ironia fina, gostava de contar piada. Quando voltava de viagem, trazia lembranças para todos os sobrinhos.”

Alguns anos após a morte de Alceu, Laís se debruçou no acervo do tio para criar artigos de vestuário e decoração. Atualmente, tem trabalhado com a produção de jogos americanos, calendários e outros produtos em parceria com o irmão, Ivan Penna.

Há um tempo ela, a irmã Mara, a prima Luiza Penna de Andrade e outros membros da família fizeram uma força tarefa para organizar o acervo e homenagens pelo centenário do artista, que tem influenciado gerações desde que lançou seu olhar criativo e sensível para a mulher brasileira. “A obra dele parece não ter fim. É um legado realmente muito rico.”
Legado precioso ‐

Filha de América Penna, a Miloca, dois anos mais velha que Alceu, a arquiteta Luiza Penna de Andrade tem se empenhado na força tarefa criada para organizar o acervo e o legado deixados pelo artista. “Ele desenhava como respirava, mas nunca foi muito organizado. Então, era a tia Thereza, irmã que morou com ele desde mocinha até a morte, quem cuidava de alguma coisa. Ela também morreu, há oito anos, não há mais nenhum dos 11 irmãos vivo.

O que pretendemos é garantir a preservação do que ficou, organizar esse legado e torná‐lo acessível ao público.” Ainda segundo Luiza, vários originais de Alceu ainda inéditos foram doados para o Museu da Moda, em Niterói, RJ.
Luiza, que se casou com um vestido desenhado pelo tio, conta que o legado de Alceu é bastante explorado em trabalhos acadêmicos, livros e biografias, por pessoas de fora e também da família, a exemplo das sobrinhas‐netas do artista Gabriela Penna (autora do livro Vamos, Garotas!) e Rachel Penna (idealizadora do trabalho de graduação e exposição – Alceu Penna ‐ as garotas que tem yumpf, no Museu Inimá de Paula, em 2009).

Ela também cita Maria Cláudia Bonadio, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), como uma pesquisadora atuante no legado de Alceu. “Ela tem dado uma contribuição muito rica nesse sentido, inclusive orientando trabalhos acadêmicos na temática. No site www.alceupenna.com.br procuramos relacionar tudo o que já foi publicado sobre ele”, informa Luiza.
Além do site, a família também criou uma página no Facebook, Centenário de Alceu Penna, e tem tentado aprovar projetos via Lei de Incentivo para a organização de exposições. “Pleiteamos fazer uma mostra no Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte, já nos inscrevemos na seleção, mas ainda não sabemos se será aprovada. Nosso ideal é criar exposições itinerantes, que possam viajar pelo país, já que o tio Alceu era conhecido em todo o Brasil, nas cidades onde circulava a revista O Cruzeiro e os outros trabalhos produzidos por ele”.
Entre as dificuldades da família está a reunião do acervo, já que muitos desenhos e outros documentos espalharam‐se ao longo dos anos, além de patrocínio. “O que temos investido até agora são recursos pessoais, apesar de já ter mandado projetos para vários órgãos e empresas do setor têxtil. Tenho muita vontade de fazer mais por ele, por esse legado. Há vários livros sobre o trabalho do meu tio, mas nenhum de imagens inéditas, por exemplo, catalogadas de acordo com as datas de origem. Um desejo meu é organizar esse material”, planeja Luiza. E derrete‐se em admiração pelo tio famoso. “Ele foi um cara muito na dele, simples e cultíssimo. Um intelectual que falava várias línguas, pessoa muito educada, muito discreto, muito amigo dos irmãos, um exemplo de vida.”

Leia mais: http://impresso.em.com.br/app/noticia/toda-semana/feminino-e-masculino/2015/02/01/interna_femininoemasculino,140481/o-pai-da-moda-brasileira.shtml

Um prodígio brasileiro

 

Por Ruy Castro

Escritor, biógrafo e jornalista; pubicado na  Folha de S. Paulo em 03/01/2015

RIO DE JANEIRO – Sem fanfarras, tivemos neste dia 1º o centenário de um dos artistas gráficos mais completos do Brasil: Alceu Penna, o ilustrador que, de 1938 a 1964, publicou as famosas páginas duplas, “As Garotas do Alceu”, em “O Cruzeiro”.

Durante aqueles 26 anos, Alceu, semana após semana, inventou a moderna mulher brasileira: jovem, elegante, saudável, atlética, informada, independente, maliciosa, quase petulante (e, se essa mulher nem sempre correspondia a tal descrição, a culpa era dela, por não ter se inspirado em Alceu). Brasileiras de todas as cidades alcançadas por “O Cruzeiro” –que, nos anos 1950, eram todas– vestiam-se como suas garotas e tentavam copiar sua postura e “atitude”.

Tecnicamente, Alceu era um prodígio. Os colegas o admiravam pela maestria com que, em traços ágeis e firmes, insinuava tonalidades, volumes, texturas. E olhe que era daltônico: via o vermelho no verde e vice-versa. Com tudo isso, nunca houve um costureiro brasileiro que não fosse seu devedor.

Alceu, no apogeu, estava nas passarelas, nos cassinos, no teatro, na TV, na indústria têxtil, nas capas de livros e discos. Criou modelos de alta costura, vestidos de noiva, fantasias de Carnaval, moda de praia, lingerie, figurinos de musicais… sempre na casa dos milhares e, inúmeras vezes, de graça. Morreu pobre, mas isso foi o de menos: um derrame em 1975 condenou-o a passar os últimos cinco anos de sua vida sem desenhar.

As mulheres de Alceu eram, sem exceção, lindas ou interessantes –porque assim ele as enxergava. O extraordinário é que, segundo seu biógrafo Gonçalo Junior, no magnífico “Alceu Penna e as Garotas do Brasil” (Amarilys, 2011), nunca se soube de uma ocorrência amorosa em sua vida –com qualquer sexo. Alceu pode ter morrido virgem de mulheres, mas, à sua maneira, digo eu, fecundou-as todas.

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/um-prodigio-brasileiro-por-ruy-castro